quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

TUCANOS: CADA DIA MAIS RIDÍCULOS

Roupa 'vermelha' de Dilma vira alvo do PSDB, mas cabeleireiro diz que é "rosa chiclete"


Publicação: 31/01/2013 11:55 Atualização: 31/01/2013 15:31

 (Reprodução/Youtube)

A presidente Dilma Rousseff, que preza por modelos discretos, não poderia imaginar que um blazer nada decotado pode levá-la à dar explicações ao Ministério Público. O PSDB, maior partido de oposição, reclamou da cor do casaco usado por ela na semana passada, durante pronunciamento de TV no qual anunciou a redução da tarifa de energia elétrica.

Os tucanos levaram na última terça-feira o caso, junto com outras queixas, à Procuradoria-Geral da República por verem uso da máquina pública com fins de promover a candidaturar à reeleição de Dilma - a sucessão presidencial é no ano que vem. “A presidente Dilma usou roupas vermelhas no pronunciamento oficial em uma clara referência às roupas vermelhas utilizadas na campanha de 2010 (…) fazendo alusão à cor do seu partido”, diz a petição, que apontou outros detalhes que comprovariam o tom eleitoreiro na apresentação.

Mas o blazer da discórdia, neste caso, é inocente, segundo o cabeleireiro Celso Kamura, que arrumou pessoalmente a presidente antes da gravação, e confirmou o que o vídeo e as fotos já dão a entender: as vestes, na verdade, não são de tonalidade vermelho-PT, mas “eram sem dúvida rosa chiclete Ping-Pong”, segundo definição do hair stylist.

O deputado Carlos Sampaio (SP), novo líder do PSDB na Câmara, admitiu que ele e o grupo que analisou o vídeo não se ativeram às nuances de pigmento, mas minimizou a importância do assunto. “Entendemos ser vermelho, mas isso é um detalhe pequeno que faz parte de um contexto. Ela pode usar a cor que bem entender, só quisemos mostrar a mudança no comportamento dela. É a primeira vez que aparece nessa cor porque em pronunciamentos anteriores, como no último, ela vestiu preto com uma renda branca por cima.”

Quem falou com a estilista Luisa Stadlander, que assina a maioria dos modelos usados por Dilma, disse que ela está chateada com a polêmica. Ela se recusa a falar publicamente sobre o assunto. O fato é que os tucanos acertaram a dizer que Dilma vem apresentando mudanças no visual. “Em doses homeopáticas”, comenta Kamura.

A morte dos jornais - Apóllo Natali

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Foto: Reuters
jornal naufragando charge

Daqui a 4 anos não haverá mais jornais impressos nos Estados Unidos. Lá, o fim será agora, em 2017, logo após a Copa do Mundo de Futebol. Dentro de 27 anos desaparecerão por completo os jornais impressos no mundo.
 
Por Apóllo Natali, especial para sua coluna no QTMD?
         Há meia dúzia de anos, Francis Gurry, então cabeça da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, anunciava essas profecias e falou: “Os jornais no formato como os conhecemos hoje, vão desaparecer até 2040. Até essa data, todos os países do mundo devem fazer a transição do papel para o meio digital”. Gurry dizia que os sinais da mudança já então se faziam presentes, como no fato de que as vendas de versões digitais de jornais superavam as ocorridas em bancas”.
         Outro necrólogo dos jornais, Philip Meyer, professor da Universidade da Carolina do Norte, em seu livro The Vanishing Newspaper,  prevê mais 30 anos de vida para os jornais.  Ele preconiza que de todos os meios antigos, os jornais são os que têm mais a perder para a internet, e acredita, diferente de Francis Gurry, que o primeiro trimestre de 2043 é que será o momento em que o jornal impresso morrerá nos Estados Unidos, “quando o último leitor estiver cansado de colocar de lado a última edição amarrotada”.
          O modelo de negócios da imprensa escrita está implodindo, prevê a necrologia dos jornais impressos, na medida em que os leitores jovens vão atrás de notícias nos tablóides gratuitos e na mídia eletrônica. E a internet, com sua vastidão, energia e imediatismo, parece mesmo capaz de derrubar o velho e sonolento jornal impresso.
          No Brasil, à parte jornais influentes assassinados pela ditadura militar implantada em 1964, como o sólido Correio da Manhã, por exemplo, a mortandade impressa por motivos naturais já chegou. Um dos mais importantes jornais do país, o Jornal do Brasil, antes de estrebuchar de uma vez por todas promoveu, inutilmente, uma radical reforma gráfica, que trouxe como grande novidade um novo formato, o berliner, meio termo entre o tablóide e o tamanho convencional, o standard. Seguia receita usada por tradicionais periódicos europeus. Prático de manusear e carregar, mais agradável aos olhos das novas gerações, esse tratamento intensivo ao paciente terminal não deu sobrevida nem a jornais bicentenários pelo mundo, que acabaram fechando.
        Outro cadáver, o do Jornal da Tarde, do Grupo Estado, em São Paulo, foi sepultado no final de 2012. O motivo de sua morte, segundo seu criador, Mino Carta, é que perdeu a sua própria razão de ser. “Toda a imprensa brasileira decaiu, mas a morte do jornal há de ser vista como conseqüência fatal da decadência do jornalismo impresso, cercado por forças novas, encaradas com perplexidade por este velho profissional, incapaz de imaginar o desfecho disso tudo”.
          Uma das “forças novas” por enquanto ainda imperceptível, a cercar o jornalismo impresso e a minar suas forças, não é digital e sim ideológica. Para o professor Perseu Abramo, em “Padrões de Manipulação da Grande Imprensa”, Editora Fundação Perseu Abramo, o jornalismo precisa se libertar de seu pior inimigo, que é a própria imprensa, tal como ela existe hoje. O que é um jornal? Um punhado de cidadãos com dinheiro para comprar impressoras e montar infraestrutura de redação e distribuição para publicar o que eles querem que o público leia, e não publicar o que eles não querem que o público leia, para o bem de seus próprios interesses econômicos, políticos e ideológicos. Em uma palavra, manipulação das consciências. Perfeitamente democrático. Perfeitamente amoral. Aí está porque o presidente Lula dizia sentir náuseas ao ler jornais. Eu também sinto, meio século depois de iniciar minha carreira no jornalismo impresso.
           Abramo profetiza uma tendência histórica futura, na verdade pressentida atualmente, estando já nestes novos tempos a vampirizar as jugulares dos jornais. Ninguém é bobo para sempre. A tendência é a de que as classes dominadas não mais teriam motivos para acreditar ou confiar na imprensa, em papel ou digital, e seguir suas orientações. “Passariam a intensificar sua postura crítica, sua análise de conteúdo e forma, diante dos órgãos de comunicação. Por meio de seus setores mais organizados, contestariam as informações jornalísticas, fariam a comparação militante entre o real acontecido e o irreal comunicado, fariam a denúncia sistemática da manipulação e da distorção. Tomariam como uma de suas principais tarefas de luta a desmistificação organizada da imprensa e das empresas de comunicação”.
          Enquanto isso, ao redor das tumbas dos jornais finados, ecoam os sussurros da fascinante história da imprensa escrita. Começamos com a invenção do papel, pelos chineses, no ano 106. Passamos pela prensa de Gutenberg em 1438 e tivemos na Revolução Francesa o maior impulso de um dos mais antigos métodos de impressão, a tipografia, com a publicação de 1.500 títulos na época, duas vezes mais que nos 150 anos anteriores a 1789. Inventamos, durante passados 575 anos, desde o surgimento da prensa, velocíssimos, nítidos e econômicos métodos de impressão em superfícies lisas ou não, chamados, entre outros, de off-set, flexografia, rotogravura, litografia, tampografia, xerografia.
          Chegamos no ano de 2006 e resolvemos diminuir o tamanho do velho jornalão, que ora xingamos de mastodonte. Os primeiros de menor tamanho circularam e ainda circulam pelo mundo e também no Brasil, denominados padrão berliner, imagens e textos curtos pipocando em seu formato de 47 x 37,5 centímetros, um pouco menor que o tablóide.
           Ingressamos na era do plasma, um pedaço de papel eletrônico, espécie de plástico dobrável, para pôr no bolso. Uma tela portátil, denominada e-reader, de 12,2 por 16,3 centímetros. Impresso e alimentado via internet sem fio, a rotatividade das notícias é monitorada via digital. Encostamos a ponta da unha e pronto, temos sempre novas e novas notícias. Não há jornal impresso que resista ao furacão de avanços tecnológicos a que chegamos neste século 21 e das tempestades eletrônicas que se avizinham. Os avanços ideológicos nas classes dominadas, esses igualmente carregam a alça do esquife dos jornais impressos rumo ao cemitério.
*Apollo Natali é jornalista, formado aos 71 anos, depois de 4 décadas atuando na imprensa. É colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna Desabafos de um ancião”.

Hildegard Angel: Minha Fala no Ato da ABI Pela Anulação do Julgamento do Mensalão

Hildegard Angel
Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão.
Mentirão porque é mentirosa desde sua origem, já que ficou provada ser fantasiosa a acusação do delator Roberto Jefferson de que havia um pagamento mensal de 30 dinheiros, isto é, 30 mil reais, aos parlamentares, para votarem os projetos do governo.
Mentira confirmada por cálculos matemáticos, que demonstraram não haver correlação de datas entre os saques do dinheiro no caixa do Banco Rural com as votações em plenário das reformas da Previdência e Tributária, que aliás tiveram votação maciça dos partidos da oposição. Mentirão, sim!
Isso me envergonhou, me entristeceu profundamente, fazendo-me baixar o olhar a cada vez que via, no monitor de minha TV, aquele espetáculo de capas parecendo medievais que se moviam, não com a pretendida altivez, mas gerando, em mim, em vez de segurança, temor, consternação, inspirando poder sem limite e até certa arrogância de alguns.
Eu, que já presenciara em tribunais de exceção, meu irmão, mesmo morto, ser julgado como se vivo estivesse, fiquei apavorada e decepcionada com meu país. Com este momento, que sei democrático, mas que esperava fosse mais.
Esperava que nossa corte mais alta, composta por esses doutos homens e mulheres de capa, detentores do Supremo poder de julgar, fosse imune à sedução e aos fascínios que a fama midiática inspira.
Que ela fosse à prova de holofotes, aplausos, projeção, mimos e bajulações da super-exposição no noticiário e das capas de revistas de circulação nacional. E que fosse impermeável às pressões externas.
Daí que, interpretação minha, vimos aquele show de deduções, de indícios, de ausências de provas, de contorcionismos jurídicos, jurisprudências pós-modernas, criatividades inéditas nunca dantes aplicadas serem retiradas de sob as capas e utilizadas para as condenações.
Para isso, bastando mudar a preposição. Se ato DE ofício virasse ato DO ofício é porque havia culpa. E o ônus da prova passou a caber a quem era acusado e não a quem acusava. A ponto de juristas e jornalistas de importância inquestionável classificarem o julgamento como de “exceção”.
Não digo eu, porque sou completamente desimportante, sou apenas uma brasileira cheia de cicatrizes não curadas e permanentemente expostas.
Uma brasileira assustada, acuada, mas disposta a vir aqui, não por mim, mas por todos os meus compatriotas, e abrir meu coração.
A grande maioria dos que conheço não pensa como eu. Os que leem minhas colunas sociais não pensam como eu. Os que eu frequento as festas também não pensam, assim como os que frequentam as minhas festas. Mas estes estão bem protegidos.
Importa-me os que não conheço e não me conhecem, o grande Brasil, o que está completamente fragilizado e exposto à manipulação de uma mídia voraz, impiedosa e que só vê seus próprios interesses. Grandes e poderosos. E que para isso não mede limites.
Esta mídia que manipula, oprime, seduz, conduz, coopta, esta não me encanta. E é ela que manda.
Quando assisti ao julgamento da Ação Penal 470, eu, com meu passado de atriz profissional, voltei à dramaturgia e me lembrei de obras-primas, como a peça As feiticeiras de Salém, escrita por Arthur Miller. É uma alegoria ao Macartismo da caça às bruxas, encetada pela direita norte-americana contra o pensamento de esquerda.
A peça se passa no século 17, em Massachusets, e o ponto crucial é a cena do julgamento de uma suposta feiticeira, Tituba, vivida em montagem brasileira, no palco do Teatro Copacabana, magistralmente, por Cléa Simões. Da cena participavam Eva Wilma, Rodolpho Mayer, Oswaldo Loureiro, Milton Gonçalves. Era uma grande pantomima, um julgamento fictício, em que tudo que Tituba dizia era interpretado ao contrário, para condená-la, mesmo sem provas.
Como me lembro da peça Joana D’Arc, de Paul Claudel, no julgamento farsesco da santa católica, que foi para a fogueira em 1431, sem provas e apesar de todo o tempo negar, no processo conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, que saiu do anonimato para o anonimato retornar, deixando na História as digitais do protótipo do homem indigno. E a História costuma se repetir.
No julgamento de meu irmão, Stuart Angel Jones, à revelia, já morto, no Tribunal Militar, houve um momento em que ele foi descrito como de cor parda e medindo um metro e sessenta e poucos. Minha mãe, Zuzu Angel, vestida de luto, com um anjo pendurado no pescoço, aflita, passou um torpedo para o então jovem advogado de defesa, Nilo Batista, assistente do professor Heleno Fragoso, que ali ele representava. O bilhete dizia: “Meu filho era louro, olhos verdes, e tinha mais de um metro e 80 de altura”. Nilo o leu em voz alta, dizendo antes disso: “Vejam, senhores juízes, esta mãe aflita quebra a incomunicabilidade deste júri e me envia estas palavras”.
Eu era muito jovem e mais crédula e romântica do que ainda sou, mas juro que acredito ter visto o juiz militar da Marinha se comover. Não havia provas. Meu irmão foi absolvido. Era uma ditadura sanguinária. Surpreende que, hoje, conquistada a tão ansiada democracia, haja condenações por indícios dos indícios dos indícios ou coisa parecida…
Muito obrigada.
Opinião dO Cachete:
Perfeita!!!

Entre a emoção e o escárnio


É parte das crenças nas redações que o jornalista, por viver imerso nos fatos e em contato quase permanente com os dramas da sociedade, acaba por desenvolver uma espécie de capa impermeável emocional.
Essa seria uma qualidade exigida, por exemplo, para os repórteres de televisão e rádio, os âncoras dos telejornais e os entrevistadores em geral.
http://epoca.globo.com/edic/329/jn06.jpg 
Apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo, William Bonner costuma ser lembrado por ter sido capaz de noticiar a execução de seu colega Arcanjo Lopes do Nascimento, o Tim Lopes, em 2002, com o rosto praticamente impassível, sem demonstrar seus sentimentos.
Mas também é citado por não ter podido conter as lágrimas ao anunciar outra morte, no ano seguinte, a do seu patrão Roberto Marinho.
Essa característica atribuída a jornalistas tem sido também a origem de muitos equívocos na interpretação dos sentimentos alheios.
Eventualmente, correm até apostas nas redações sobre quanto tempo determinado acontecimento vai levar até começar a produzir anedotas entre jornalistas.
Um jornal importante, como o gaúcho Zero Hora, pode passar de manifestações explícitas de luto, como a colocação de faixa pretas em suas páginas, até o extremo oposto, o de admitir conteúdo de puro escárnio às vítimas.
Correm na internet manifestações de protesto contra a charge publicada na terça-feira, dia 29/01, pelo principal jornal da região Sul do País, sob o título “Uma nova vida.
A obra, assinada pelo veterano chargista Marco Aurélio, retrata uma longa fila de estudantes mortos, postados diante de um prédio identificado como “USP – Universidade de São Pedro”. Da porta, o próprio São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade – arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freire; medicina, sala 7 com Zerbini” – e assim por diante.
É uma referência direta aos mortos na boate Kiss, de Santa Maria, que o mais reles pasquim de quinta categoria teria pejo de exibir.
Após as primeiras críticas de leitores, o desenho desapareceu da versão online do jornal e o blog “Os diaristas”, que costumava publicar os trabalhos de chargistas e caricaturistas do grupo Zero Hora, foi tirado do ar.
Mas fica a pergunta: o que é que o jornal gaúcho pretendia ao publicar esse monumento ao mau gosto?
O jornalista, um fingidor
Na verdade, os jornalistas, como o inverso do poema, apenas fingem não sentir a dor que deveras sentem.
Por essa razão, entre outras, espera-se deles que dominem o vernáculo e as demais linguagens da comunicação, de modo a poderem se aproximar dos fatos com alguma objetividade, sem pieguice mas também sem frieza.
Em episódios de risco de má interpretação, a medida mais salutar é eliminar as fontes de possíveis equívocos.
No caso da tragédia de Santa Maria, o mais correto seria dispensar os chargistas de terem que caminhar na corda bamba.
Mesmo porque uma seção de humor é a última coisa que o leitor gostaria de ver num jornal em uma ocasião como essa.
Nesta quinta-feira (31/01), os jornais de circulação nacional começam a deixar para trás os relatos emocionados de sobreviventes e parentes das vítimas fatais e investem na apuração das causas da tragédia.
Além disso, instigam as autoridades a tomar uma posição mais clara quanto à necessidade da prevenção de riscos nas casas noturnas em outras cidades.
A Folha de S. Paulo volta a tratar do assunto em manchete, noticiando que a prefeitura da capital paulista promete fazer uma avaliação das boates da cidade em noventa dias.
O Estadão informa, na primeira página, que o dono da boate Kiss instalou a espuma de plástico que gerou a fumaça tóxica sem consultar os bombeiros nem a prefeitura de Santa Maria. E também registra as medidas preventivas tomadas em São Paulo.
O Globo alerta que há no Rio de Janeiro 49 espaços culturais sem alvará e também anuncia um mutirão de vistorias.
Os familiares das vítimas finalmente podem se retirar para o luto privado, com menos risco de virem a ser convocados a expor suas penas diante das câmeras.
O foco agora á a caça aos responsáveis, e, claramente, a imprensa escolheu entre os dois proprietários da casa noturna de Santa Maria aquele que vai levar a carga mais pesada.
Ao mesmo tempo, as luzes começam a se afastar do prefeito e do comandante local do Corpo de Bombeiros.
Mas, até esta quinta-feira, ninguém havia divulgado o nome que assina o laudo que liberou aquela ratoeira.
Luciano Martins Costa
No Observatório da Imprensa

Estão querendo transformar os mortos em culpados pela tragédia da boate Kiss em Santa Maria.

Não sei se você que me lê recebeu alguns desses e-mails que estão correndo a rede e tratam da tragédia que na madrugada de sábado para domingo matou até o momento 235 pessoas e feriu mais de cem, várias delas em estado grave.

O que me espantou e me trouxe a esta postagem foi um deles, que teria sido escrito por um jovem de 19 anos - o que me pareceu ainda mais absurdo. Não vou revelar o nome dele, e reproduzo a seguir o teor da mensagem, que veio com o seguinte texto no assunto (subject): "Deu merda. Muita merda!".



BAGUNÇA

Quando eu digo que a universidade virou espaço de culto à bagunça, à vida desregrada e à irresponsabilidade, completamente desvirtuada de seus valores originais, dizem que sou cricri e antissocial, que sou chato e amargo. Mas deu merda. Alguém foi irresponsável e deu merda. Várias pessoas foram irresponsáveis e deu merda, muita merda. Teto de espuma, falta de sinalização, extintores mal inspecionados e não funcionando. Luzes de emergência que não funcionaram. Gente drogada e alcoolizada que não pôde reagir. Alguém disparando um sinalizador num ambiente fechado. Uma irresponsabilidade atrás da outra em nome de "curtir a vida" e "aproveitar a melhor fase da vida". E não me venham com "ah, mas foi um caso isolado, nem todos os lugares são assim". Bobagem. Essas duas frases resumem a concepção atual que, estimo, no mínimo metade dos jovens têm sobre a universidade: é o lugar de beber, de conhecer drogas, de “pegar” todo mundo, de ir a festas de arromba. Construir o conhecimento é bobagem, prestar serviço à humanidade através do saber é bobagem: o importante são as fotos no Facebook, as histórias para contar, o carpe diem moderno e o diploma fuleiro ao final do curso. A palavra de ordem é curtir. Curtiram. Curtiram 234 corpos queimados frutos não deste ou daquele erro de fulano ou ciclano, mas de um comportamento e um valor difundido entre os jovens. Não sou conservador. Não acho que aproveitar a vida faça mal. Não há problema nenhum em fazer uma festa ou gostar de uma balada. Mas é um problema quando a responsabilidade é posta de lado em nome de um estilo de vida. O problema é quando este é o único objetivo, o norte que direciona toda uma vida. O problema é quando vivem em função da sexta-feira-à-noite e todo o resto perde o sentido. E é assim que, como eu vejo, muitos têm vivido. E pior ainda é quando tudo isso é defendido e divulgado pela mídia e pela sociedade. Eu aposto que boa parte dos sobreviventes vão estar em outra festa, muito parecida com essa, para comemorar a sobrevivência. E vão achar o máximo e suas famílias vão apoiar isso. E isso, meus caros, é de matar. Novamente: a causa real deste incêndio é um comportamento defendido por muitos. Ninguém ali pensou em sua própria segurança. Ninguém pensou no que poderia acontecer quando se reunissem tantas pessoas em um ambiente tão fora de controle. Mais de 2 mil pessoas, a maioria alterada devido ao álcool ou às drogas, em transe por conta da música, no mesmo espaço. Desta vez não deu certo.

Será que esse jovem (?) não leu que a culpa do acidente nada teve a ver com o comportamento dos mortos, mas dos vivos e muito vivos, que fizeram e deixaram funcionar uma arapuca?

Será que se esses jovens fossem religiosos, tementes a deus, caretas até a medula, numa festa religiosa comemorando por exemplo o evento mundial da igreja católica que acontecerá este ano no Rio, e o incêndio começasse do mesmo modo, todos se safariam?

O comportamento dos jovens não teve nada a ver com a tragédia. Estavam ali para se divertir, e poderiam ser coroas como eu - porque, sim, os coroas também se divertem. E morreríamos do mesmo jeito. Assim como morreriam intoxicados pela fumaça tóxica, os religiosos do evento suposto.

A acusação, a culpabilização das vítimas, é muito semelhante àquela feita as mulheres estupradas: porque eram lindas, usavam roupas provocantes, passaram por uma rua perigosa, estavam em lugar ermo, era madrugada etc.

Quer dizer que as mulheres têm que ser feias, não podem usar a roupa que quiserem nem frequentar ou passear por onde desejarem, porque se forem estupradas a culpa será delas?

Todos temos direitos de curtir a vida (embora isso parece uma coisa horrorosa para o autor da mensagem), com segurança. Passear, brincar, dançar, ir a shows com amigos, namoradas. Se não há segurança, se - como diz o subject do e-mail, der merda, muita merda!, temos que procurar os culpados lá do lado criminoso e não do lado das vítimas.

Mais uma vez, minha solidariedade aos amigos e familiares das vítimas de Santa Maria. Que vocês não deixem de curtir  a vida por causa desse terrível acontecimento. Cobremos punição para os responsáveis, e depois, passado o luto, quando der aquela vontade, divirtam-se, curtam a vida, carpe diem, enquanto outros preferem morrer de tédio.

Pibinho mineiro


Fraude Econômica: Pibão da dupla Aécio-Anastasia é prá lá de brochante
Minas está é na merda com estes tucanos
No Língua de Trapo
 
A grande imprensa ignorou a derrapagem da economia mineira. Mas a revista Mercado Comum publicou matéria sobre o fato e reproduzo o início dela logo abaixo. Para quem desejar acessar na íntegra, clique aqui.
A imprensa, de fato, já é soldado na guerra entre partidos (guerra que pouco significa no dia-a-dia do brasileiro).

IBGE OFICIALIZA O DECLÍNIO ECONÔMICO DE MINAS

O governador Antonio Anastasia, baseado em dados que lhe foram fornecidos pela Fundação João Pinheiro, anunciou, no dia 16 de março de 2011, que o crescimento do PIB do Estado de Minas Gerais no ano de 2010 havia alcançado 10,9%, “um resultado extraordinário, superior aos países que têm forte dinamismo econômico”, afirmou na ocasião.
No entanto, estes dados não se confirmaram e o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anunciou, no dia 23 de novembro último, ter sido o crescimento do PIB de Minas de 8,9% e não de 10,9%, como divulgou o governador. O IBGE classificou o crescimento econômico do Estado em 10º lugar naquele ano, tendo sido o seu desempenho superado pelos estados de Tocantins, Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Acre, Paraíba, Paraná, Amazonas e Roraima. O IBGE divulgou, também, que no acumulado do período de 2002-2010, Minas obteve o sétimo pior desempenho econômico do País e ocupa o 22º lugar no ranking dos estados brasileiros em crescimento de sua economia. Tais dados comprovam e não deixam mais nenhuma dúvida sobre a realidade do declínio econômico de Minas Gerais.
Em solenidade realizada com a presença da imprensa e tendo ao seu lado a Secretária de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck, a presidente da Fundação João Pinheiro, Marilena Chaves e o diretor do Centro de Estatística e Informações da FJP, Frederico Poley, o governador declarou à imprensa à época:
“Tenho a satisfação de informar aos mineiros e ao Brasil que o crescimento do nosso PIB foi de 10,9%. É um resultado extraordinário, superior, inclusive, aos padrões dos países que têm tido forte dinamismo econômico, como a China e Índia, e bem superior ao do Brasil, que foi de 7,5%. Isso sinaliza a retomada efetiva da economia do Estado e vamos continuar trabalhando para que tenhamos crescimento econômico sempre”.
Como o órgão que mede o crescimento do PIB no Estado é a Fundação João Pinheiro, o governador baseou-se em dados fornecidos por ela. Á época, de acordo com o Centro de Estatística e Informações da Fundação João Pinheiro, “a taxa de expansão do PIB mineiro de 2010 era a maior da série histórica iniciada em 1995 pela Fundação. Trata-se do melhor resultado de crescimento econômico do Estado dos últimos 15 anos. Até então, o recorde foi verificado em 2004, quando a economia mineira cresceu 5,9%”
A Secretária Dorothea Werneck, naquela oportunidade, também ressaltou que este percentual era superior ao crescimento do PIB da China e da Índia:
“Todos comemoraram a taxa de crescimento do Brasil em 7,5% e estamos anunciando 10,9%, crescimento maior do que a China (10,3%) e maior do que a Índia (8,6%). Estamos vivendo em um Estado que está com um crescimento muito acima da média e isso significa para nós, mineiros, melhor qualidade de vida através da geração de mais empregos, mais renda, através de um potencial de maior consumo ainda em nosso Estado”.
O percentual de crescimento de Minas, divulgado pelo governador, conflitou substancialmente, no entanto, com os números divulgados no último dia 23 deste mês pelo IBGE, segundo o qual o crescimento de Minas naquele ano foi de 8,9%, classificando este resultado o Estado em décimo lugar entre todas as unidades da federação. Estão na frente de Minas, Tocantins, com 14, %, Espírito Santo, com 13,8%, Rondônia, com 12,6%, Mato Grosso do Sul, com 11%, Acre, com 10,9%, Paraíba, com 10,3%, Paraná, com 10%, Amazonas, com 10% e até Roraima, com 9,6%.
No Rudá Ricci

Cartaz da Copa faz homenagem ao PSDB?


O cartaz da FIFA para a Copa de 2014 apresenta uma detalhe curioso. No desenho que forma o contorno do Brasil, na altura do estado de SP, aparece um tucano, como a lembrar "Esse território é nosso". Teria sido um ato falho da agência Crama Design?
No Inter ação

Rui Falcão chama imprensa de "oposição sem cara"

247- "Sejamos francos: quem é oposição no Brasil hoje?", questionou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, durante a primeira reunião da bancada do PT na Câmara neste ano, nesta quarta-feira, respondendo na sequência: "Temos a oposição parlamentar, mas há uma oposição mais forte, extrapartidária que não mostra a cara, mas se materializa em declarações como a de Judith Brito [vice-presidente da Associação Nacional de Jornais] que disse :"como a oposição não cumpre o seu papel, nós temos que fazê-lo".

O presidente do PT aproveitou a reunião para avisar que o partido vai se dedicar à luta pela democratização dos meios de comunicação neste ano. "Vamos às redes sociais e aos partidos lutar pela liberdade de expressão. Esses a quem eu nominei, que tentam interditar a política no Brasil, essa oposição extrapartidária que quer fazer com que se desqualifique a política e quando a gente desqualifica a política, abre campo para aventuras golpistas que levaram ao nazismo, fascismo e devemos afastar do nosso país", disse. "Combater essa oposição sem cara, mas com voz é um dos objetivos do PT nessa conjuntura", completou.

Na avaliação de Rui Falcão, é preciso regulamentar os artigos de 220 a 222 da Constituição, para garantir a desconcentração do mercado e a valorização da produção independente. Segundo o presidente do PT, essa democratização dos meios de comunicação é fundamental para a liberdade de expressão. Durante a reunião, Falcão também criticou o que chamou de antecipação da campanha eleitoral por parte da oposição e disse que o PT não cairá neste jogo, que acabaria por encurtar o mandato da presidente Dilma Rousseff.

Condenados

O ex-presidente do PT José Genoino (SP), condenado no julgamento do mensalão, também participou do encontro, já que assumiu o mandato de deputado. Quando seu nome foi citado pelo líder da bancada do PT, José Guimarães (CE) -- que é seu irmão --, Genoino recebeu muitos aplausos. O ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), também participou da reunião, mas apenas no início.
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Ódio da mídia conservadora aumenta após encontro entre Dilma e Franklin Martins


Franklin Martins defende medidas
reguladoras para o setor
Correio do Brasil

“O tom desesperado dos editoriais da mídia conservadora, que embasa a representação entregue na véspera pelo PSDB à Procuradoria-Geral da República contra a presidente Dilma Rousseff, não encontrará eco na Corte Suprema. A previsão é do ministro Luis Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União. Em conversa com jornalistas, na manhã desta quarta-feira, ele afirmou que a tendência é a do procurador-geral arquivar a medida.
– Não tem nenhum fundamento, nenhuma substância jurídica – disse Adams.
O que os tucanos pedem é uma investigação sobre o pronunciamento da presidenta, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão na última quarta-feira, que teria sido uma peça de propaganda política, na visão dos conservadores de direita, expressa no ódio com que a mídia conservadora se refere ao governo da presidenta Dilma. Segundo afirma o documento, o anúncio de que a conta de luz ficará menor tratou-se de uma “cristalina promoção da presidente da República”, uma antecipação da campanha pela sua reeleição.”
Matéria Completa, ::AQUI::

Desemprego fecha 2012 em 5,5%, a menor taxa da série histórica

Flávia Villela, Agência Brasil
A taxa de desemprego do país ficou em 4,6% em dezembro e fechou o ano de 2012 em 5,5%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram divulgados hoje (30) e mostram que o índice anual é o mais baixo da série história iniciada em março de 2002. Antes disso, a taxa de 2011 havia sido a menor da série, ao ficar em 6%.
O resultado de dezembro do ano passado também é o menor da série histórica. O recorde anterior havia sido registrado em dezembro de 2011 (4,7%). Em novembro de 2012, o índice ficou em 4,9%.
O IBGE iniciou a série histórica da pesquisa em março de 2002, por isso não há dado consolidado para aquele ano.

Brasil concedeu 73 mil vistos de trabalho a estrangeiros


Em 2012 foram concedidas 73.022 autorizações de vistos a estrangeiros, segundo dados divulgados pela Coordenação Geral de Imigração (CGig) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Das autorizações concedidas no ano, 64.682 foram temporárias e 8.340 permanentes.
Segundo os dados, os profissionais são altamente qualificados e vieram exercer profissões nas áreas de gerência e supervisão de empresas.

Nas autorizações temporárias, o visto destinado ao profissional com vínculo empregatício no Brasil teve um crescimento de 26% com relação a 2011. Nos últimos três anos esta categoria teve um crescimento de 137%, passando de 2.460 profissionais autorizados em 2009 para 5.832 em 2012. Esses profissionais são altamente qualificados e vem ao Brasil exercer profissões nas áreas de gerência e supervisão de empresas que demandam conhecimento não disponível.

Hildegard e o “Mentirão” do STF


O tribunal do regime militar foi mais justo

Do Conversa AfiadaPublicado em 31/01/2013


Saiu no blog da Hildegard Angel: 


MINHA FALA NO ATO NA ABI PELA ANULAÇÃO DO JULGAMENTO DO MENSALÃO


Publicado em 30/01/2013
  

Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão.

Mentirão porque é mentirosa desde sua origem, já que ficou provada ser fantasiosa a acusação do delator Roberto Jefferson de que havia um pagamento mensal de 30 dinheiros, isto é, 30 mil reais, aos parlamentares, para votarem os projetos do governo.

Mentira confirmada por cálculos matemáticos, que demonstraram não haver correlação de datas entre os saques do dinheiro no caixa do Banco Rural com as votações em plenário das reformas da Previdência e Tributária, que aliás tiveram votação maciça dos partidos da oposição. Mentirão, sim!

Isso me envergonhou, me entristeceu profundamente, fazendo-me baixar o olhar a cada vez que via, no monitor de minha TV, aquele espetáculo de capas parecendo medievais que se moviam, não com a pretendida altivez, mas gerando, em mim, em vez de segurança, temor, consternação, inspirando poder sem limite e até certa arrogância de alguns.

Eu, que já presenciara em tribunais de exceção, meu irmão, mesmo morto, ser julgado como se vivo estivesse, fiquei apavorada e decepcionada com meu país. Com este momento, que sei democrático, mas que esperava fosse mais.

Esperava que nossa corte mais alta, composta por esses doutos homens e mulheres de capa, detentores do Supremo poder de julgar, fosse imune à sedução e aos fascínios que a fama midiática inspira.

Que ela fosse à prova de holofotes, aplausos,  projeção, mimos e bajulações da super-exposição no noticiário e das capas de revistas de circulação nacional. E que fosse impermeável às pressões externas.

Daí que, interpretação minha, vimos aquele show de deduções, de indícios, de ausências de provas, de contorcionismos jurídicos, jurisprudências pós-modernas, criatividades inéditas nunca dantes aplicadas serem retiradas de sob as capas e utilizadas para as condenações.

Para isso, bastando mudar a preposição. Se ato DE ofício virasse ato DO ofício é porque havia culpa. E o ônus da prova passou a caber a quem era acusado e não a quem acusava. A ponto de juristas e jornalistas de importância inquestionável classificarem o julgamento como de “exceção”.

Não digo eu, porque sou completamente desimportante, sou apenas uma brasileira cheia de cicatrizes não curadas e permanentemente expostas.

Uma brasileira assustada, acuada, mas disposta a vir aqui, não por mim, mas por todos os meus compatriotas, e abrir meu coração.

A grande maioria dos que conheço não pensa como eu. Os que leem minhas colunas sociais não pensam como eu. Os que eu frequento as festas também não pensam, assim como os que frequentam as minhas festas. Mas estes estão bem protegidos.

Importa-me os que não conheço e não me conhecem, o grande Brasil, o que está completamente fragilizado e exposto à manipulação de uma mídia voraz, impiedosa e que só vê seus próprios interesses. Grandes e poderosos. E que para isso não mede limites.

Esta mídia que manipula, oprime, seduz, conduz, coopta, esta não me encanta. E é ela que manda.

Quando assisti ao julgamento da Ação Penal 470, eu, com meu passado de atriz profissional, voltei à dramaturgia e me lembrei de obras-primas, como a peça As feiticeiras de Salém, escrita por Arthur Miller. É uma alegoria ao Macartismo da caça às bruxas, encetada pela direita norte-americana contra o pensamento de esquerda.

A peça se passa no século 17, em Massachusets, e o ponto crucial é a cena do julgamento de uma suposta feiticeira, Tituba, vivida em montagem brasileira, no palco do Teatro Copacabana, magistralmente, por Cléa Simões. Da cena participavam Eva Wilma, Rodolpho Mayer, Oswaldo Loureiro, Milton Gonçalves. Era uma grande pantomima, um julgamento fictício, em que tudo que Tituba dizia era interpretado ao contrário, para condená-la, mesmo sem provas.

Como me lembro da peça Joana D’Arc, de Paul Claudel, no julgamento farsesco da santa católica, que foi para a fogueira em 1431, sem provas e apesar de todo o tempo negar, no processo conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, que saiu do anonimato para o anonimato retornar, deixando na História as digitais do protótipo do homem indigno. E a História costuma se repetir.

No julgamento de meu irmão, Stuart Angel Jones, à revelia, já morto, no Tribunal Militar, houve um momento em que ele foi descrito como de cor parda e medindo um metro e sessenta e poucos. Minha mãe, Zuzu Angel, vestida de luto, com um anjo pendurado no pescoço, aflita, passou um torpedo para o então jovem advogado de defesa, Nilo Batista, assistente do professor Heleno Fragoso, que ali ele representava. O bilhete dizia: “Meu filho era louro, olhos verdes, e tinha mais de um metro e 80 de altura”. Nilo o leu em voz alta, dizendo antes disso: “Vejam, senhores juízes, esta mãe aflita quebra a incomunicabilidade deste júri e me envia estas palavras”.

Eu era muito jovem e mais crédula e romântica do que ainda sou, mas juro que acredito ter visto o juiz militar da Marinha se comover. Não havia provas. Meu irmão foi absolvido. Era uma ditadura sanguinária. Surpreende que, hoje, conquistada a tão ansiada democracia, haja condenações por indícios dos indícios dos indícios ou coisa parecida…

Muito obrigada.

Leitor da Veja




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