terça-feira, 3 de setembro de 2013

O editorial de O Globo e a caixa preta da relação da mídia com a ditadura. O exercício editorial de cinismo e memória seletiva de O Globo serve ao menos como oportunidade para trazer à luz um debate que permanece escondido nas sombras no Brasil.

"A participação da mídia brasileira é um episódio que ainda está para ser plenamente contado. Há muitas lacunas e zonas cinzentas nesta história. E isso não parece ocorrer por acaso. Muitos dos compromissos que levaram uma parte importante da imprensa brasileira a se aliar com setores golpistas e autoritários permanecem presentes e se manifestam em outros debates da vida nacional. Enquanto a sociedade não decidir que abrir essa caixa preta é uma condição para o avanço da democracia no país, essas empresas, no Brasil, na Argentina e em outros países da América Latina seguirão praticando um de seus esportes preferidos: pisotear a memória e apresentar os seus interesses privados como se fossem interesses públicos." 
O editorial de O Globo e a caixa preta da relação da mídia com a ditadura
Sul21 - 02/09/2013 - Marco Aurélio Weissheimer

Argumento do editorial de O Globo, em resumo, é: “à luz da história, olhando 50 anos depois, foi um erro, mas naquele momento foi imprescindível para a manutenção da democracia”.
Argumento do editorial de O Globo, em resumo, é: “à luz da história, olhando 50 anos depois, foi um erro, mas naquele momento foi imprescindível para a manutenção da democracia”.
O jornal O Globo publicou editorial, dia 31 de agosto, admitindo que “o apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”, ou um “equívoco” como também diz o texto. A decisão de tornar pública essa avaliação, diz ainda o editorial. “vem de discussões internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz da história, o apoio se constituiu um equívoco”. Quase 50 anos depois do golpe civil-militar que derrubou o governo constitucional de João Goulart, as organizações Globo vêm a público falar desse “equívoco”, lembrando que outros grandes jornais do país também aderiram ao movimento golpista (cita o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, o Jornal do Brasil e o Correio do Brasil, “apenas para citar alguns”) e admitindo que as vozes recentes das ruas afirmando que “a Globo apoiou a ditadura” são inquestionáveis.
Mas o que poderia parecer uma autocrítica acaba descambando ao longo do texto do editorial para um exercício cínico de justificação da decisão tomada em 1964 e de ocultamento dos benefícios que a empresa teve por seu apoio aos golpistas. O texto cita um editorial assinado por Roberto Marinho em 1984, que “ressaltava a atitude de Geisel em 13 de outubro de 1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o principal deles o AI5,  reestabeleceu o habeas corpus e a magistratura (…)”. Logo em seguida, justifica o apoio ao golpe destacando “os avanços econômicos obtidos naqueles vinte anos” e a crença de que o golpe foi “imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana”. O argumento do editorial, em resumo, é: “à luz da história, olhando 50 anos depois, foi um erro, mas naquele momento foi imprescindível para a manutenção da democracia”.

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