sábado, 8 de junho de 2013

Mauro Santayana: De igual para igual, sem canto de sereias

Do Viomundo - publicado em 8 de junho de 2013 às 10:40
Dilma e Joe Biden, na visita do vice-presidente americano ao Brasil. Foto: Wilson Dias/ABr


por Mauro Santayana, em seu blog

A vinda do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao Brasil, e a confirmação da visita de Estado da Presidente Dilma Rousseff aos EUA, apontam para uma mudança de patamar nas relações entre os dois países.

Tradicionalmente avessos a uma aproximação maior com a América do Sul, os Estados Unidos parecem ter subitamente despertado para a importância do Brasil na região e no mundo. Entre outros fatos, essa presença internacional explica a recente vitória do Brasil na OMC, contra o voto contrário de 26 países da União Europeia e dos próprios EUA.

O Brasil, hoje, por qualquer ângulo que se veja, é o parceiro necessário na região.

O maior projeto petroquímico do México está sendo executado por uma empresa brasileira. Pouco ao leste, no mar das Antilhas, a obra mais importante de Cuba, o novo Porto de Mariel, é financiada pelo Brasil e está sendo realizado por outra empresa brasileira, assim como novas usinas da Azcuba, estatal de produção de açúcar, e de vários projetos de modernização agrícola. Na Bolívia, a venda de gás ao Brasil é de importância vital para aquele país, que nos envia, todos os dias, 30 milhões de metros cúbicos.

Também na Bolívia e no Peru, o Brasil projeta e constrói a rodovia e a ferrovia transoceânicas, que irão nos levar aos portos do Pacífico e facilitar o incremento das relações comerciais entre os dois lados do continente. Ainda no Peru, empresas brasileiras abrem túneis nas montanhas dos Andes, para levar águas para a irrigação de áreas áridas. 
No Paraguai, o Brasil financia e constrói uma linha de transmissão de energia de Itaipu ao oeste do país. Na Argentina, o maior projeto em discussão hoje, é o da exploração das reservas de potássio de Rio Colorado, a ser executada por uma empresa brasileira.

Apoiado por pela Espanha e pelo México, os EUA tentam contrabalançar o papel do Brasil na América Latina, com iniciativas como a Aliança do Pacífico. Trata-se de esforço inútil, já que o Brasil é o maior parceiro latino-americano comercial de todos os países envolvidos. Além disso, a Aliança não pode concorrer com a UNASUL ou o com Conselho de Defesa da América do Sul, instituições das quais Peru, Colômbia e Chile são membros plenos, e compartilham com o Brasil importantes projetos, como o do novo avião militar de transporte da EMBRAER, o KC-390 ou o desenvolvimento de lanchas de patrulha fluviais para a Amazônia.

Biden fez questão de ressaltar alguns aspectos que valorizam o papel do Brasil no mundo, como o fato de ser a sétima maior economia e de ter um PIB maior que o da Rússia, ou o da Índia e omitiu outros, como a posição do Brasil como terceiro maior credor externo dos EUA.

Devemos estreitar, de igual para igual, o diálogo com os EUA, sem nos deixarmos seduzir pelo canto de suas sereias. Eles têm seus interesses e nós temos os nossos. Eles têm o Nafta – e nós temos o Mercosul e os Brics.
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