quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os segredos do Opus Dei - Grande Investigação - IX - (final)

Opus Dei nas finanças do Governo e com força na banca
Críticos dentro da Igreja não desviam obra do 'Caminho'
Altos dirigentes portugueses da Igreja Católica não acreditam que exista um projeto oculto de poder no Opus Dei para controlar a Igreja Católica. Admitem, porém, que a obra tem críticos e que há opções tomadas que podem não estar de acordo com o direito canónico. Vigário regional garante que não passa por cima de bispos das dioceses.
"O Opus Dei faz parte da Igreja Católica." Esta foi a frase mais repetida e dita com mais ênfase pelos membros da obra ao longo deste trabalho, como quem quer marcar bem uma posição. Mas qual é afinal o papel do Opus Dei na Igreja Católica? Altos responsáveis portugueses da Igreja Católica - que não pertencem à obra - consideram que o Opus Dei tem um papel importante na formação católica e que tem vindo a afirmar-se, mas admitem a existência de vários críticos dentro da própria Igreja.
O cardeal José Saraiva Martins, o mais influente português do Vaticano, explica ao DN que o papel do Opus Dei é "servir a Igreja", algo que considera que a obra faz com "uma total fidelidade e lealdade". Enquanto observador privilegiado da realidade do centro de poder da Igreja Católica, José Saraiva Martins considera "infundadas" as críticas de que o Opus Dei procura controlar a Igreja.
Apesar disso, a prelatura ainda não tem uma aceitação unânime na Igreja Católica. O bispo emérito de Aveiro, D. António Marcelino, admite que "como acontece com outros movimentos eclesiais existentes, há diversidade na sua aceitação. Porém, depostos preconceitos existentes, a aceitação vai crescendo".
O Opus Dei é a única prelatura pessoal da Igreja, o que faz que a obra goze de uma influência na Igreja Católica superior a qualquer outro movimento eclesiástico. Os críticos referem o facto de os sacerdotes do Opus Dei não responderem hierarquicamente aos bispos da diocese, mas apenas ao prelado (Javier Echevarría) em Roma como um dos privilégios da obra. O líder do Opus Dei em Portugal, José Rafael Espírito Santo, considera esta fórmula hierárquica natural: "Um sacerdote da Guarda em Lisboa responde ao bispo da sua diocese e não ao bispo de Lisboa." José Rafael Espírito Santo reconhece que "as licenças ministeriais são dadas pelo vigário regional, mas, ao mesmo tempo, o bispo de cada diocese onde estão os sacerdotes do Opus Dei tem de reconhecer o sacerdote". Além disso, garante o vigário regional, "tudo o que o Opus Dei faz na diocese passa sempre pelo bispo diocesano, como a abertura dos centros".
O bispo emérito de Aveiro explica, porém, que "em relação à prelatura há ainda muitas críticas, pois é considerada como uma igreja no seio das Igrejas Diocesanas". D. António Marcelino diz ainda que "a decisão de Roma não foi devidamente refletida pelos bispos diocesanos, o que criou maiores dificuldades de aceitação. Foi como que uma decisão 'clandestina' como pude verificar, que os responsáveis negavam, mesmo quando já existiam documentos que mostravam as démarches existentes". O sacerdote recorda que viveu "já bispo este acontecimento" e conta a impressão com que ficou: "Considerei-o uma decisão à revelia do Vaticano II, por influências da Cúria Romana, que sempre defendeu a autoridade exclusiva do Papa, esquecida do valor da colegialidade episcopal, mormente em tema que afetava toda a Igreja." E lamenta: "Foi pena que assim tenha acontecido e a verdade é que não se criou nenhuma outra prelatura pessoal."
O bispo emérito de Aveiro revela, por outro lado, que o Opus "mantém ainda, em algumas atividades, dificuldade em se situar, com normalidade, na comunidade eclesial, dando para isso razões ligadas com a sua estrutura. É o caso dos colégios que não aceitam ser escolas católicas segundo o direito canónico e as orientações do episcopado". O bispo emérito considera este "um assunto não resolvido e que obriga a conferência episcopal, por via de um diálogo aberto, a não desistir, pois trata-se de um tema de grande relevância pastoral".
Sobre a aceitação do Opus Dei na Igreja, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (órgão que congrega todas as dioceses do País), Manuel Morujão, questiona: "Há algum espaço no mundo em que todos vivam a bater palmas de aplauso mútuo, sem crítica alguma? Estaríamos no paraíso... É natural que haja pessoas que gostem do estilo do Opus Dei, como é perfeitamente aceitável que haja pessoas que tenham outros critérios e gostos." Na opinião de Manuel Morujão, "o importante é não tornarmos dogmático o perfil do movimento ou obra a que aderimos, dentro do espaço comum que é a Igreja ou mesmo a sociedade. Por mais encantador que achemos o som do violino, não vamos pretender que uma orquestra não admita outros instrumentos".
D. António Marcelino sintetiza o papel da obra, classificando-a como "um movimento de espiritualidade que visa dar aos membros uma formação que lhes permite ser cristãos no mundo, preocupados em orientar a sua vida segundo o Evangelho".
Maçonaria da Igreja?
Os altos responsáveis da Igreja contactados pelo DN rejeitam também a ideia do Opus Dei ser a "maçonaria da Igreja". D. António Marcelino considera que o Opus Dei "não se deve considerar uma forma de maçonaria" e atribui esta ideia ao facto de a obra, "no início e durante longo tempo, [ter] um secretismo exagerado e desnecessário". O bispo emérito diz ainda que "é natural que os membros do Opus, com a sua formação, tenham uma ação positiva, que não julgo de toupeira, na sociedade". Manuel Morujão também rejeita o rótulo de "maçonaria", pois o Opus "cultiva certa discrição, o que é muito diferente de ocultismo".
Rui Pedro Antunes
No Diário de Notícias
Veja também: Os segredos do Opus Dei - Grande Investigação - I - II - III - IV - V - VI - VII - VIII

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