domingo, 1 de julho de 2012

Será que os defensores de que todos são iguais ainda acham que o PT é diferente?


Ando bastante confuso com o noticiário político. Reportagens, colunas, editorias e lembranças antigas se misturam.

Há algumas semanas, o PR, que é da base do governo federal (detinha, ou detém, sei lá, o Ministério dos Transportes, embora não esteja mais nas mãos de Alfredo Nascimento), fez aliança com Serra e o PSD (mais o PV, o PSB e o PPS, pelo menos). Ora, o partido foi um dos alvos da chamada faxina. Era um partido do mal, acusado de corrupção por todo mundo. Ficou bom, juntado ao Serra. Serra parece ser um bom limpador de políticos.

Por outro lado, lia nos jornais e nos sites que Maluf estava levando também seu PP para a campanha de Serra (já está no governo Alkmin, sempre na área da construção (!) e no Federal). Nada parecia estranho. Era como se fossem aliados naturais, e Maluf fosse apenas mais um político, a não ser pelo fato de seu partido ser detentor de um minuto e pouco na TV. De repente, Maluf recebe Lula em casa e declara seu amor a S. Paulo e apoia Haddad (o que resultou na tal foto com Lula). Maluf, que estava ficando limpo, um político do bem, passou a ser de novo do mal – o PT, aparentemente, não lava mais limpo.

Além do mais, passou-se a considerar uma indignidade que o PT se alie a seu adversário histórico do tempo da ditadura, a que serviu fielmente, e também pelas acusações de corrupção que pesam contra ele. Veja-se o pronunciamento de Erundina, considerada exemplo de ética, já que renunciou à candidatura para não ficar no palanque com Maluf.

Houve muito espanto na sociedade, nas colunas e nas reportagens dos jornais, que também noticiaram que as redes sociais expressaram seu horror a esta aliança. Não sei o que disseram de Lula, não leio as redes, mas sei que elas são bem destampadas, quase sem superego.

Em suma: políticos ficam melhores ou piores conforme as alianças que fazem. O curioso é que um sujeito como Maluf pareça melhor junto ao PSDB do que ao PT. É como se uma aliança de Maluf com os tucanos fosse natural e, com os petistas, uma indecência do PT. Mas por que o PSDB estaria “normal” ao lado de Maluf? Não entendo, juro!

Afinal, não ficamos sabendo, desde o mensalão, que o PT é igual aos outros? Se é igual (elianes cantanhedes repetem isso todos os dias), por que certas alianças ainda chocam? Ou será que os defensores de que todos são iguais ainda acham que o PT é diferente?

Pesquisa recente revela que 64% dos petistas são contra aliança do PT com Maluf em S. Paulo. O que revelaria uma pesquisa análoga, perguntado pela avaliação de hipotética aliança do PSDB com Maluf? Ou é uma pesquisa que nem se pensa em fazer?

É então que lembro pronunciamentos antigos, especialmente do senador Pedro Simon. Em 2005, assim que Roberto Jefferson abriu a boca, foi à tribuna para espantar-se com o que o PT fizera. E confessava, candidamente, que o PT lhe parecia um bálsamo, era uma esperança, e que “agora” se sentia traído. Mas ele era do PMDB, que considerava um covil. E continua lá… Por que ele não passou para o PT, pelo menos antes do mensalão? Como posso acreditar nele?

Os políticos do bem me deixam confuso com suas (in)decisões. E os jornais me deixam confusíssimo, com seus pesos e medidas diferentes para cada caso.

Sírio Possenti é linguista, professor na Unicamp. Publicou diversos livros. Estuda piadas e outros textos curtos. Em suas colunas, combate análises fajutas e preconceituosas. Detesta usar gravata.

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