domingo, 24 de junho de 2012

Luso-descendente comemora primeiro ano de site político

Por Ígor Lopes* para o “Mundo Lusíada

Maria Helena, comendadora e fundadora do Arouca Barra Clube, a neta Ana Helena tavares e o comendador e primeiro presidente do Arouca no Rio, Alberto José de Oliveira (conhecido como Rezende).

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Ana Helena Ribeiro Tavares. Essa é a jovem carioca de 27 anos que está determinada a lutar “para que a humanidade seja protegida”. Administradora de um projeto jornalístico on-line, Ana mantém na internet o site “Quem Tem Medo da Democracia?” (QTMD?). A página, que está completando um ano de vida, evoca temas político-sociais e visa à publicação não só de textos seus, mas também de colaboradores. De descendência lusitana, ela é ainda autora de um livro – de edição caseira – que fala sobre o trabalho da sua avó portuguesa, Maria Helena, para fundar o Arouca Barra Clube, no Rio de Janeiro.

Na página inicial de seu site, o aperto de mãos entre Luís Inácio Lula da Silva e Ulysses Guimarães promete muitas descobertas ao longo da leitura. De cara, a pergunta inicial é digna de reflexão: “Quem Tem Medo de Democracia?”. Mais abaixo, uma frase instigante avisa que ali é lugar de “jornalismo-político e alguma arte”. Ora, que mundo, virtual, é este em que arte e política se misturam? Pois bem, a resposta está nos mais de 860 textos que compõem o site. São eles frutos de artigos e entrevistas de nomes renomados que fazem parte do time de colaboradores desse trabalho jornalístico, que celebrou um ano no dia 8 de abril, com a postagem de textos comemorativos.

O número de acessos ao site impressiona. No primeiro ano, houve 110.583 acessos, o que dá uma média mensal de 9.215 visualizações ou 300 visitas por dia. O perfil do leitor do portal contempla pessoas de visão política de esquerda, com mais de 50 anos de idade. Mas há visitantes também de outras correntes políticas. “Isso me orgulha. Gosto de incomodar”, ironiza Ana.

Perfil determinado

No dia em que a nossa reportagem se encontrou com Ana Helena, essa luso-descendente mostrava um brilho nos olhos digno de uma jovem que caminha pelos “socalcos” da comunicação. A entrevista foi na Zona Norte do Rio, num centro comercial movimentado, tal qual a agenda da nossa entrevistada. Ana Helena acabara de chegar da gravação de um programa especial sobre mulheres para a TV Comunitária do Rio. Ela participou em um dos blocos falando sobre o papel da mulher na política e a influência que isso exerce no seu trabalho no QTMD?.

Após quase duas horas de conversa ficamos com a sensação de que algo a incomodava. Ana Helena havia marcado de fazer contato com dois entrevistados ilustres do seu site: Fernando de Santa Rosa, militar legalista preso em 64 e hoje capitão de Mar e Guerra reformado, e Paulo Mello Bastos, ex-piloto da Aeronáutica e ex-comandante da Varig (foi ele quem pilotou o avião que trouxe João Goulart de volta ao Brasil em 1961). Os telefonemas foram feitos e o jornalismo seguiu o seu curso. Mas, o que esses personagens têm em comum? Fizeram parte da história. Contudo, os fatos o leitor só será capaz de conhecer ao longo da série de entrevistas que Ana está preparando sobre o golpe civil-militar de 1964 em http://quemtemmedoda democracia.com. A idéia da série é fruto de uma conversa de Ana com o jornalista Antônio Martins, do site “Outras Palavras”. Ao todo já nasceram 12 entrevistas. O objetivo é chegar a 20 e publicar um livro.

Portugal na veia

A sua ligação às raízes portuguesas é marcante. A comendadora Maria Helena Ribeiro, sua avó materna, foi fundadora do Arouca no Rio. Falecida em 2005, aos 83 anos, ela não viu ficar pronto o livro escrito pela neta. A obra “Uma mesa e um telefone” foi lançada em 2006 e conta a história da fundação de uma casa que é hoje tradicional na cidade carioca. Ana é filha de Maria do Céu Ribeiro, carioca, e do arouquense Manuel Tavares. O casal se conheceu no clube fundado por Maria Helena. Hoje, Manuel é naturalizado brasileiro.

A escrita como destino

Dona de uma paixão desenfreada pela escrita, Ana optou por estudar na Faculdade de Letras da UFRJ. O intuito era seguir carreira como escritora. Mas, ao freqüentar as aulas, se desiludiu com a grade curricular. Acabou abandonando o curso e enveredou pelas lides da formação em jornalismo, na Facha. “Tudo isso pela vontade de escrever”, conta Ana, que é ex-aluna do colégio Pedro II.

Mas nem sempre o campo político fascinou Ana Helena. Em2002, ajovem se afastou dessa temática. No ano de 2008, voltou a se interessar por política, após um “empurrãozinho” do professor universitário Gilson Caroni Filho.

“Eu sempre percebi que a Ana era uma pessoa diferenciada. Quando ela resolveu entrar na blogosfera, dei muita força, sabia que ela faria um trabalho de excelente nível. Claro que ela ainda tem muito a aprender, mas não há dúvidas de que seu futuro é promissor. O trabalho dela no site revela uma pessoa extremamente empenhada em brigar pela democracia, e seu texto, nessa empreitada, é a ferramenta mais importante”, aponta Gilson, ex-professor de Ana. Segundo o mestre, que diz ter “muito orgulho” da ex-aluna, Ana é uma pessoa “múltipla”.

“Ela escreve, entrevista, edita, diagrama, revisa, fotografa e ainda replica comentários dos leitores”, explica Gilson, que é colaborador do site “com muita satisfação”, garante. Porém, afirma que não é fácil prever o futuro do “QTMD?”. “Dependerá muito da disposição que ela terá em manter um projeto que, dificilmente, contará com financiamento ou patrocínio”, analisa.

A morte do seu irmão Daniel Tavares, em fevereiro, aos 30 anos de idade, acabou por lhe dar ainda mais força para continuar. “O meu irmão me apoiava bastante. Acabo sentido obrigação de vencer, de acreditar em mim mesma”, conta.

O mundo virtual

O site nasceu como um blog que atendia pelo nome de “Quem Tem Medo do Lula? (QTML?)”. Com a saída do ex-sindicalista da presidência, Ana decidiu mudar o nome do portal, mas continuou a utilizar a palavra medo. “As pessoas têm medo não da democracia em que vivemos mas da verdadeira democracia”, sublinha Ana. Satisfeita com o site, ela rechaça, agora, a comparação com o blog. “Hoje temos domínio próprio. A exibição do conteúdo obedece a um padrão de site, mesmo”.

Colaborações de ouro

O portal reúne a colaboração de 22 pessoas. Mas apenas dez o fazem freqüentemente. Esses colaboradores “passeiam” pelas áreas do jornalismo, sociologia ou antropologia. Um dos destaques é Dênis de Moraes. Jornalista e professor do departamento de Estudos Culturais e Mídia da UFF, Dênis escreve para o site, onde mantém a coluna “Batalha da Mídia“.

A escolha dos colaboradores “acontece naturalmente”. Muitos vieram do blog “República Vermelha”, que já não existe, no qual Ana também colaborava. Mas, em 2010, o QTML?, que pertencia a Rodrigo Frazão, entrou na vida dessa entusiasta política, quando ela descobriu que o blog necessitava de colaboradores. “Comecei a colaborar e imprimi um estilo mais moderado como colaboradora”, diz.

Ana e Rodrigo só conversavam pela rede mundial de computadores. Nunca chegaram a se conhecer pessoalmente. Mais tarde, Rodrigo decidiu deixar sob responsabilidade de Ana o destino da sua criação.

“Ele achava meu estilo muito diferente do dele. Em sua opinião, o blog deveria estar nas mãos de alguém que entendesse de escrita. Passou por sérios problemas de saúde e, então, achou por bem colocar o projeto na minha mão”, frisa Ana, que de pronto abraçou a idéia.

Sem dinheiro no caixa

Engana-se quem pensa que o QTMD? rende remuneração. Simplesmente, todo o trabalho de manter o site e atualizá-lo é voluntário. O projeto conta apenas com o suporte financeiro do seu pai, Manuel. Sobre o futuro, Ana Helena dispara: “É um projeto de vida. Vejo-me já idosa editando o site. Acredito que um dia possa vir a ter um patrocínio bacana. Vou terminar a faculdade e seguir em frente”, finaliza Ana, que, profissionalmente, já passou pela assessoria de imprensa do Ministério Público e, hoje, atua na área de comunicação do Sindicato da Polícia Civil do Rio.

*Ígor Lopes é jornalista e correspondente do jornal paulista Mundo Lusíada no Rio de Janeiro.

Nota: Dedico esta postagem à minha avó Maria Helena, que exerceu papel fundamental na formação do meu caráter. (Ana Helena Tavares)

Do Site Quem tem medo da democracia?

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