segunda-feira, 28 de maio de 2012

A vez de Demóstenes romper o silêncio

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A vez de Demóstenes romper o silêncio
Desde 6 de março sem falar em público, senador goiano será interrogado duas vezes nesta semana: amanhã no Conselho de Ética e na quinta-feira na CPI do Cachoeira


Juliana Braga
Adriana Caitano


Demóstenes anunciou que irá responder a todas as perguntas amanhã (Bruno Peres/CB/D.A Press - 16/5/12)
Demóstenes anunciou que irá responder a todas as perguntas amanhã
Escanteado entre seus pares, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) vive uma semana decisiva no Congresso. Depois de quase três meses de silêncio, estão marcados dois depoimentos, um no Conselho de Ética e outro na CPI, que podem ou revelar detalhes ainda não conhecidos do esquema capitaneado por Carlinhos Cachoeira, ou frustar as expectativas, como ocorreu na semana passada. No Conselho de Ética, está em jogo o mandato do senador, que se pronunciou pela última vez em 6 de março.

O primeiro depoimento será no Conselho de Ética do Senado, amanhã de manhã. De acordo com a defesa de Demóstenes Torres, nos primeiros 20 minutos da sessão, ele fará um relato sobre sua vida pública. A ideia é rebater os pontos expostos na representação que resultou no processo. O senador, segundo seus defensores, acredita que precisa dar satisfação a seus pares no Senado e está disposto a responder a todas as perguntas. Seu comportamento na CPI, no entanto, ainda não está definido. A defesa prefere esperar os efeitos do primeiro depoimento, mas adianta que, para Demóstenes, falar com os colegas senadores é mais importante que a oitiva da CPI, em que há também deputados e ele não é o principal foco.

Demóstenes decidiu falar no Conselho de Ética porque essa será o único elemento de defesa no processo que pode culminar na cassação do mandato dele. As outras testemunhas que havia arrolado — o advogado Ruy Cruvinel e o próprio Cachoeira — se negaram a depor. Para o presidente do Conselho de Ética, senador Antônio Carlos Valadares, “o depoimento dele se configura uma peça importante” e será o “maior instrumento de defesa”. Por conta disso, Valadares não vai limitar o tempo que Demóstenes terá para falar e permitirá que outros senadores, além daqueles que compõem o conselho (veja infografia ao lado), participem da sessão.

Integrantes do Conselho antecipam um clima pesado para o senador, que tem sido evitado pelos colegas. “Existe uma total decepção com a relação à conduta do Demóstenes Torres no âmbito do Senado. Noto que há um ambiente muito crítico, frio e de descontentamento”, disse um parlamentar. Ainda assim, os senadores evitam antecipar se o processo resultará na cassação do mandato.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) acredita que, por ter muito a explicar, Demóstenes não deve se recusar a responder aos questionamentos. “Ele é um homem experiente e, com certeza, virá com muitos argumentos”, comenta. Nogueira destaca que o “grande dilema” que deve ser confrontado é saber até onde o mandato do senador de Goiás estava a serviço de Cachoeira. “De qualquer forma, eu vou totalmente desarmado, evitando fazer um juízo de valor prévio, pois todo mundo tem direito de defesa”, acrescenta.

O senador Jayme Campos (DEM-MT), que era colega de partido de Demóstenes, afirma que a expectativa sobre novidades no depoimento é grande. “Acho que a presença dele vai esclarecer muita coisa, certamente será o palco ideal para que as dúvidas sejam tiradas”, disse, sem querer adiantar as questões a serem feitas ao investigado.

Discurso
Na quinta-feira será a vez de Demóstenes comparecer à CPI do Cachoeira. Por lá, a expectativa com relação ao depoimento já não é tão grande. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), por exemplo, acredita que pouco pode ser revelado, além do que as investigações da Polícia Federal já trouxeram à tona, isso, se ele falar. Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), dificilmente Demóstenes ficará calado. “Existe uma alta expectativa de que ele esclareça o envolvimento dele no esquema e talvez seja a hora de ele explicar o funcionamento da organização criminosa”, acredita. “Se ele se calar, vai passar recibo e acabar trabalhando pela própria cassação.”

 O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), também espera que o senador revele novas informações que ajudem a investigação. “Ele poderia dar lá uma demonstração de que, mesmo diante de denúncias graves, vai falar para que o país possa se encontrar eticamente”, defende. Já o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) acredita que, como outros depoentes, o investigado permanecerá calado.

A primeira e única vez que Demóstenes se manifestou publicamente sobre sua relação com Carlinhos Cachoeira foi durante um discurso no plenário do Senado, em 6 de março. No discurso, assumiu a amizade com o bicheiro goiano, mas negou envolvimento com negócios ilícitos. Demóstenes dizia ser “um livro aberto” e que nada seria encontrado contra ele nos grampos feitos pela PF. “Nesta Casa, sempre me opus ao jogo, votando contra todas as iniciativas de legalizá-lo”, afirmou o senador, ao se defender.

"A presença dele vai esclarecer muita coisa, será o palco ideal para que as dúvidas sejam tiradas"

Jayme Campos (DEM-MT), senador e integrante do Conselho de Ética
"Se ele se calar, vai passar recibo e acabar trabalhando pela própria cassação"
Paulo Teixeira (PT-SP), deputado e integrante da CPI do Cachoeira
 
Do Blog APOSENTADO INVOCADO.

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