sexta-feira, 11 de maio de 2012

Gurgel não é um santo intocável


Do Blog do Miro - 11/05/2012

Por Altamiro Borges

Roberto Gurgel, procurador-geral da República, virou o novo santo intocável das elites. Diante da possibilidade dele ser convocado para depor na CPI do Cachoeira, devido a sua omissão na apuração dos crimes do mafioso, tenta-se formar uma blindagem para protegê-lo. Líderes do PSDB e do DEM, ministros do Supremo Tribunal Federal e a mídia demotucana unem-se em sua defesa.


O pescador de águas turvas

Gilmar Mendes, o mesmo que deveria ser excluído de vários julgamentos do STF em função de suas atitudes suspeitas, é um dos que encabeça essa operação-abafa. Para ele, a tentativa de ouvir Gurgel partiria dos envolvidos no chamado mensalão do PT, dos “pescadores de águas turvas”, que querem “inibir ações dos órgãos que estão funcionando normalmente”.

“Funcionando normalmente”? É normal que o procurador-geral não tenha aberto as investigações contra o senador Demóstenes Torres – o líder da direita moralista paparicado por Gilmar Mendes – apesar das provas que lhe foram entregues sobre os vínculos do ex-demo com o mafioso Carlinhos Cachoeira em setembro de 2009? Bela tese do ministro Gilmar Dantas (desculpe, Mendes)!

Mídia morre de medo

No mesmo esforço de blindagem, a velha mídia se uniu, “numa só voz”, rejeitando a convocação do procurador-geral. O primeiro a manifestar total solidariedade foi o Estadão: “É de todo verossímil o argumento de Roberto Gurgel, segundo o qual ‘pessoas que estão morrendo de medo do processo do mensalão’ estão por trás das tentativas de convocá-lo a depor na CPI do Cachoeira”.

Hoje foi a vez da Folha e O Globo. Para a famiglia Frias, o procurador-geral “ganhou a hostilidade do lulo-petismo por ter pedido a condenação de mensaleiros”. Já para a famiglia Marinho, “as manobras de facções radicais do PT, ligadas aos mensaleiros”, visam “constranger Roberto Gurgel”. A mesma mídia que endeusou Demóstenes Torres, agora glorifica outra figura suspeita.

Os amigos tucanos

Diante de tamanho apoio, o “pacato” Roberto Gurgel, que até parece sósia do humorista Jô Soares, resolveu dar uma de valente. Ao invés de explicar a sua total omissão no escândalo de Carlinhos Cachoeira, ele partiu para o ataque. Portou-se como novo líder da oposição demotucana, com duros ataques aos “mensaleiros do PT”. Tentou se travestir de vítima de perseguição política.

No fundo, a valentia demonstra medo. De imediato, ele procurou seus amigos do PSDB para pedir proteção. Na semana passada, segundo a própria Folha, “Gurgel recebeu em seu gabinete os senadores Aloysio Nunes Ferreira e Álvaro Dias, durante cerca de uma hora. À tarde, já no Senado, numa demonstração de que o apelo surtiu efeito, Álvaro Dias combateu a pressão pela presença de Gurgel na comissão, defendendo que isso poderia prejudicar as funções do procurador”.

Ninguém está acima da lei

Na sequência, ele garantiu que não irá depor na CPI, mesmo que seja convocado. Para isso, ele pretende se refugiar no STF. Mas, como afirma Joaquim Falcão, professor de direito constitucional, “legalmente a CPI pode convocá-lo. Nem mesmo o presidente da República escapa de prestar informações, mesmo por escrito. É uma faculdade do Congresso dentro da separação dos poderes”.

Se juridicamente a blindagem não se sustenta, do ponto de vista político ela é grotesca. Como afirma o presidente nacional do PT, Rui Falcão, “nenhuma pessoa deve estar acima da lei no Brasil”. Para ele, o procurador-geral deve explicações à sociedade. “Se soubéssemos antes das eleições de 2010 [das articulações criminosas de Demóstenes Torres], talvez ele não fosse hoje senador".
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