quarta-feira, 4 de abril de 2012

Como Cachoeira usava a mídia goiana


Eu resolvi olhar o inquérito da polícia que deu ordem de prisão ao Cachoeira. Lá tem algumas conversas muito interessantes, que ainda não vi divulgadas na mídia, entre elas uma que fala sobre o governador do estado. Talvez ajude as pessoas a entender melhor o caso ou até instigar alguns jornalistas a investigar algumas pessoas. O fato é que todo o comado da polícia civil, militar e o ministério público do estado estava envolvido com a quadrilha, que por vezes comentava sobre o governador.
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  • WLADIMIR = Wladimir Garcez (PSDB-GO), ex-presidente da Camara Municipal de Goiânia. Uma personalidade central na administração da quadrilha.
  • AREDES = Aredes Pires, delegado e corregedor geral da Segurança Pública (GO)
  • EDEMUNDO = Edemundo Dias (PSDB-GO), delegado-geral –comandante - da Policia Civil (GO) e tesoureiro do PSDB goiano. Atualmente está no controle da AGSEP – Agencia Goiana do Sistema de Execução Penal.
  • GT3 = Grupo Tático da Policia Civil
  • CARLINHOS = Carlos Augusto Ramos, famoso contraventor e chefe da quadrilha.
  • GOVERNADOR = Marconi Perillo (PSDB-GO)
Essa transcrição foi comentada pelo jornal O Popular, mas não foi publicada na integra. É possível encontrar a reportagem no site do sindicato. Além do envolvimento de chefes da segurança do estado fica claro que a quadrilha tem um certo poder sobre o GT3.
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# Transcrição da conversa gravada em 30/5/2011 as 09:40:02
WLADIMIR: Não, é o seguinte... eu tava com AREDES aqui agora, ficamos um tempão. Ele tá tentando pegar os locais, pra gente, da INTELIGENCIA agora. É... não tem definição, mais porque tirou do comando. Então... só aqueles endereços que ele falou. Ai eu perguntei pra ele o negócio (do processo do EDEMUNDO) da... o EDEMUNDO... do trem, da... do processo do EDEMUNDO, pra mim tocar no assunto com EDEMUNDO e tal, né? O EDEMUNDO não tá preocupado com isso não? Ele falou que não, que tá nem um pouco preocupado. O GOVERNADOR disse que ia resolver pra ele. Tá confiando no GOVERNADOR. E fui conversar com ele, ele falou isso: Mas parece que ele não vai trabalhar nem hoje... por causa desse ( problema) -... tá com enxaqueca, segundo a secretária dele aqui.
CARLINHOS: Não, moço, mas e ai, cadê? Não resolveu nada então.
WLADIMIR: Nada, ele vai pegar... o AREDES ficou de passar para mim os endereços... é que é aqueles endereços que a INTELIGENCIA levantou e deixou pra GT3 fazer. A GT3 tá com hora extra para fazer. A INTELIGENCIA saiu do caso. Não mexe mais, segundo... não tem mais determinação. Que negocio do ENTORNO ai? É aquele trem da FORÇA NACIONAL?
CARLINHOS; Não, isso ai não é da FORÇA não. Foi a GT3, uai!
WLADIMIR: Foi a mando do EDEMUNDO, ainda falou, foi a mando do EDEMUNDO, já tava previsto que era pra ter sido... foi feito. entendeu?
CARLINHOS: Mas a GT3 não vai entrar mais, até sexta-feira?
WLADIMIR: Não, CARLINHOS, o que ele falou pra mim foi o seguinte: aqueles endereços que a INTELIGENCIA levantou, a GT3 pode fazer, segundo ele. (...) Ai ele falou: "o que tenho certeza é TOCANTINS, RUA 3 e a T-4. Esses eu tenho certeza."(...). Ele falou : " WLADIMIR, eu tenho que ir pessoalmente. Eu vou ver e eu levanto. Eu te passo isso ai". A GT3 e a INTELIGENCIA... a INTELIGENCIA saiu, não tem mais ordem pra eles hoje. Mas isso não impede que a GT3 faça, segundo ele. A GT3 pode fazer porque tão recebendo até hora extra.
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Além de Aredes, outro chefe da segurança em Goiás que está comprovadamente envolvido é o coronel Massatoshi Sergio Katayama, o "Japão”, que é, então, o comandante da Policia Militar em Goiânia. Seu auxiliar, o Ananias, chegava a tratar Carlinhos nas conversas como seu chefe.
De O Popular - 17 de março de 2012
Cachoeira enfrentou até a Força Nacional de Segurança
Quadrilha dos jogos de azar tentou evitar a apreensão de caça-níqueis e a prisão de vários comparsas
A atuação da Força Nacional de Segurança no Entorno do Distrito Federal (DF), a partir de abril do ano passado, preocupou a quadrilha liderada pelo empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que passou a enfrentá-la ao se sentir ameaçada. Convocada para reduzir os índices de violência na região, a Força Nacional começou a atuar também no enfrentamento a outros tipos de crimes, inclusive a exploração ilegal de jogos de azar.
Por meio do vazamento de informações, a quadrilha tentava evitar o recolhimento de caça-níqueis e a prisão de comparsas, segundo revela o inquérito da Operação Monte Carlo. Além disso, investigações da PF mostram que Cachoeira tentou desmoralizar a Força Nacional por meio da mídia local.
Nos primeiros dez dias de atuação, com ações concentradas em bares, a Força Nacional apreendeu 13 máquinas caça-níqueis no Entorno. Depois, até agosto, foram mais de cem equipamentos. Isso teve reflexo direto na contabilidade da quadrilha, visto que, conforme as investigações da Polícia Federal, uma casa de jogos de azar clandestina em Valparaíso, com até 30 máquinas, chegava a faturar mais de R$ 1 milhão em um mês.
Para driblar a ação da Força Nacional, Cachoeira contou com o apoio de policiais militares – incluindo o comandante do 5º Comando Regional da Polícia Militar (CRPM) de Luziânia, major Uziel Nunes dos Reis, de policiais civis e federais, e de pelo menos um jornalista. Outro policial militar do Entorno que aparece com frequência nas conversas telefônicas e que citou algumas vezes a ação da Força Nacional é o cabo Francisco Miguel, que seria, segundo as investigações, responsável por gerenciar a segurança dos bingos de Cachoeira em Valparaíso.
Em uma conversa interceptada no fim de junho, Miguel pede ao major o “cronograma da festa”, referindo-se à agenda de atuação da Força Nacional na Região do Entorno do DF. As informações estariam em um bloco de anotações na mesa de Uziel. Neste mesmo dia, o então comandante da 5ª CRPM teria ligado para Lenine Araújo de Souza, considerado o primeiro na linha sucessória da quadrilha depois de Cachoeira, e repassado toda a agenda.
Agosto foi o mês em que a Força Nacional é mais vezes citada nas conversas entre membros do grupo de Cachoeria interceptadas pela PF. No dia 5 de agosto, Raimundo Washington de Souza Queiroga, que administrava as casas de jogos em Valparaíso, pediu para Francisco que visse com o major Uziel informações sobre a atuação da Força Nacional para que antecipassem medidas para evitar o fechamento dos bingos clandestinos. “Era duas horas da manhã, passou lá na porta do bingo. Precisa saber se ela tá hoje, se tava ontem” (sic), disse Washington em uma conversa com o cabo da PM.
Em outra conversa interceptada em agosto entre um soldado da PM que trabalhava para o grupo em Valparaíso e Francisco, os dois falam sobre “um problema com a Força Nacional” no dia 6 de agosto, que atrasou o pagamento de uma propina ao soldado.
Cachoeira contava também com o apoio de informantes dentro da Polícia Civil. Em uma conversa com o empresário, interceptada no dia 30 de maio, o ex-vereador Wladmir Garcêz – que fazia a ponte entre Cachoeira e o então corregedor da Polícia Civil, delegado Aredes Pires – explica que as operações contra os caça-níqueis no Entorno do DF saíram das mãos do Grupo Tático da Polícia Civil (GT3) e passaram para a Força Nacional.
Ainda na mesma conversa, segundo o ex-vereador, que hoje se encontra preso no Núcleo de Custódia da Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, a transferência de responsabilidade foi uma determinação do então delegado-geral Edemundo Dias, hoje presidente da Agência Prisional.
Para enfrentar a Força Nacional, Cachoeira recorria até à imprensa. Em uma conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal no dia 24 de junho, Lenine e um jornalista de uma rádio do Entorno do DF combinavam a atuação do jornalista no programa dele criticando a Força Nacional. “Vou passar uns quatro, cinco dias batendo para ver se eles desanimam um pouquinho”, disse o jornalista.
Subordinação
A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, que responde pela atuação da Força Nacional em todo o País, afirmou que a PM de Goiás coordena todas as operações desenvolvidas com a equipe de cerca de 50 homens da Força Nacional. Além disso, segundo a secretária, a equipe usava o mesmo sistema de rádio da PM, o que facilitaria vazamentos de informações. Regina ressalta que desconhece o conteúdo do inquérito da Operação Monte Carlo, mas reconhece que a Polícia Militar tinha acesso a todas informações das atividades da Força Nacional.
Regina diz que a ação da Força Nacional em bares e locais onde foram encontrados caça-níqueis se deu principalmente porque foram identificados como os pontos onde os índices de violência eram maiores. “A Força Nacional buscou atacar o problema diretamente. E se precisava fechar bares irregulares, casas de jogos, boca de fumo, a equipe agia neste sentido”, disse.
No Entorno desde abril, a Força Nacional já esticou o prazo de permanência duas vezes. Uma em novembro e outra em fevereiro. “A equipe fica pelo menos até maio, mas se o governo estadual pedir novamente estenderemos o prazo”, informou Regina.
Delegado foi afastado no meio de investigação
Responsável por um relatório de três meses de investigação e cerca de 500 páginas sobre a exploração ilegal de jogos de azar em Goiás, o delegado Alexandre Lourenço diz que foi informado sobre sua transferência para a Delegacia de Homicídios logo após a entrega do documento, em setembro do ano passado. O relatório foi citado em reportagem da revista Época deste fim de semana.
Em entrevista ao POPULAR, Alexandre desmente o delegado Edemundo Dias, diretor-geral da Polícia Civil em 2011, que afirmou ao jornal que a transferência foi informada antes a Alexandre e que o relatório seria para que o trabalho dele tivesse continuidade por outra equipe. A investigação, entretanto, foi interrompida após a transferência do delegado. Ao ser informado da declaração de Edemundo sobre o aviso prévio de sua transferência, Alexandre foi direto: “Isso não é verdade.”
O delegado foi designado para investigar a exploração ilegal de caça-níqueis em junho de 2011 pelo próprio diretor-geral. Alexandre estava no 12º Distrito Policial e foi realocado, então, para o Serviço de Inteligência da Polícia Civil. “Fiz o relatório para concluir um ciclo de investigação. Quando apresentei, fui informado da transferência”, disse. O delegado disse que não tem autorização para falar sobre o conteúdo da investigação, mas reforçou que até a entrega do documento não sabia sobre sua transferência para a Homicídios.
Edemundo afirma que o relatório apresentava um levantamento de endereços, nomes, telefones e outras informações sobre pessoas que exploravam máquinas caça-níqueis, mas não tinha nenhum nome de autoridade pública ou líderes de quadrilhas. Disse também que o relatório foi encaminhado para um recém-criado grupo de combate ao crime organizado. Entretanto, esse grupo nunca chegou a funcionar direito por falta de estrutura e recursos. “A intenção era que esse relatório fosse aprofundado, mas eu saí em novembro da direção da Polícia Civil, antes que pudesse estruturar o grupo”, disse Edemundo, que hoje comanda a Agência Prisional.
O ex-diretor-geral diz que Alexandre era delegado de sua confiança e que precisou dele na Delegacia de Homicídios. “Ele sempre fez um excelente trabalho por onde passou e considerei necessária sua ida para reforçar o trabalho na Delegacia de Homicídios”, disse. Alexandre ficou responsável por investigar homicídios ocorridos antes de 2007, objeto da Meta 2, fixada pelo Ministério da Justiça, para apurar todos os processos sem solução.
Nas investigações feitas pela Polícia Federal do Distrito Federal e pelo Ministério Público Federal em Goiás, Alexandre aparece citado em uma conversa telefônica interceptada em junho do ano passado entre o então corregedor-geral da Segurança Pública de Goiás, o delegado Aredes Pires, e Carlinhos Cachoeira. O empresário queria saber as chances de corromper Alexandre. “Zero, zero… Cara complicado. Não dá nem para conversar com esse cara. Foi bem achado, viu, acharam o cara”, teria dito Aredes a Cachoeira, segundo a transcrição da conversa. A reportagem tentou contato com a diretora-geral da Polícia Civil, a delegada Adriana Accorsi, mas ela não atendeu aos telefonemas.
Edemundo confirma contato com ex-vereador
O ex-diretor-geral da Polícia Civil de Goiás, Edemundo Dias, confirmou que recebeu o ex-vereador Wladmir Garcêz em seu gabinete no primeiro semestre do ano passado, mas negou que tivesse tratado com ele sobre investigações contra exploração de jogos de azar. Segundo Edemundo, o ex-vereador – preso durante a Operação Monte Carlo por suspeita de ser um dos principais braços direitos do empresário Carlinhos Cachoeira – o procurou para falar em nome de uma “grande empresa” que pretendia criar um sistema de biometria em massa.
“Ele me ligou inúmeras vezes, mas eu nunca atendi. Até que resolvi recebê-lo em meu gabinete, como sempre faço com todo mundo que me procura. Ele veio falar em nome desta empresa, disse que ela pensava em participar da Copa de 2014 e que esse sistema poderia interessar à Segurança Pública. Foi tudo registrado. Talvez ele tivesse tentado abordar algum outro assunto, mas não encontrou abertura da minha parte”, disse.
Edemundo nega que tenha determinado a transferência de responsabilidade sobre as investigações dos caça-níqueis no Entorno do Distrito Federal do Grupo Tático 3 (GT3) da Polícia Civil para a Força Nacional, conforme foi sugerido por Garcêz em conversa interceptada pela polícia com Cachoeira. “O GT3 não ficava sob minha jurisdição. Muito menos a Força Nacional. E eu nunca determinei que um delegado deixasse de investigar algo relacionado a caça-níqueis”, disse.
Joao Goiano
No Advivo

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