domingo, 1 de abril de 2012

Caso Veja-Cachoeira testa fronteiras do jornalismo


O Policarpo nunca vai ser nosso”, texto da atual edição de Veja, aumenta rol de dúvidas sobre interação entre publicação e contraventor; com senador Demóstenes como seu braço político, a revista seria sua mão editorial?; na Inglaterra, suspeitas de relações desvirtuadas com a polícia levaram o patrão Rupert Murdoch a se explicar no parlamento; aqui, pode acontecer o mesmo com Roberto Civita, dono da Abril, pelo longo flerte com o bicheiro?
Brasil 247
Estão faltando peças no tabuleiro das relações entre a revista Veja, a de maior circulação do Brasil em papel, e a do contraventor preso pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Precisamente, cerca de 200 peças, equivalentes ao número de ligações telefônicas grampeadas legalmente pela PF entre o editor-chefe e diretor da sucursal de Brasília da publicação, Policarpo Junior, e Carlinhos Cachoeira. Nelas se poderá verificar o verdadeiro padrão do relacionamento entre o jornalista e sua fonte. Haveria só perguntas e respostas entre eles ou algum jogo de ataques e defesas editoriais, aprimorado ao longo do tempo, no interesse comum de Veja e do contraventor? Ou, ainda, ora do interesse de Veja, ora do interesse do contraventor?
Interrogações deste mesmo tipo, mas sobre outros personagens, com outra nomenclatura, foram feitas na Inglaterra, no ano passado, durante os acontecimentos em torno do escândalo News Corp. O caso resultou no fechamento do centenário tablóide sensacionalista News of the World, cujos jornalistas atuavam em associação direta com a polícia investigativa do país – a Scotland Yard --, para a qual distribuíam dinheiro em troca de informações em primeira mão. O caso começou na redação, apanhou em cheio a editora executiva Rebekah Brooks, mas recaiu mesmo sobre o colo do patrão Rupert Murdoch. Ele se viu obrigado a ir ao parlamento do país pedir desculpas, tentar se explicar e, por fim, anunciar o sepultamento de sua publicação.
Aqui, no caso Veja-Cachoeira, a aliança da revista, por meio de seu editor-chefe, se deu, de maneira ainda obscura, com um contraventor preso sob acusação de liderar um pesado esquema de operação de jogos ilegais e infiltração em diferentes escalões do poder. Na Inglaterra, jornalistas e policiais. Aqui, com bandidos. Há fortes suspeitas de que Cachoeira, pelo método de gravações ilegais com interlocutores de seus próprios auxiliares, tenha até mesmo fabricado provas comprometedoras contra adversários. As ligações perigosas de Cachoeira com o líder da publicação em sua área mais estratégica, a sucursal de Brasília, e as dúvidas sobre uma longa aliança editorial entre eles já demandam, de per si, uma investigação independente. E esta terá, necessariamente, de incluir o dono da publicação, Roberto Civita, presidente do grupo Abril, e não apenas um ou alguns de seus funcionários. É o que lembra, em post deste sábado 31, o jornalista Luís Nassif, em Esqueçam Policarpo: o Chefe é Roberto Civita. “Policarpo realmente não era de Carlinhos Cachoeira. Ele respondia ao comando de Roberto Civita. E, nessa condição, estabeleceu o elo de uma associação criminosa entre Cachoeira e a Veja”, escreve Nassif, que continua: “Não haverá como fugir da imputação de associação criminosa. E nem se tente crucificar Policarpo ou o araponga Jairo ou esse tal de Dadá. O pacto se dá entre chefias – no caso, Roberto Civita, pela Abril, Cachoeira, por seu grupo”. (Leia aqui o artigo completo).
Na edição que chegou às bancas neste sábado, Veja evitou enfrentar o fato de frente. Não há uma linha sequer sobre a informação veiculada durante toda a semana, em diferentes canais, mas especialmente na internet, a respeito do gigantesco volume de grampos nas conversas entre Policarpo e Cachoeira no período de 2008 a 2010. Na semana retrasada, quando o assunto já era de domínio público, a revista não veiculou uma palavra sequer sobre as ligações perigosas entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que resultaram na saída deste da liderança do partido no Senado, em abertura de investigação formal dentro da agremiação e numa solicitação de bastidores para que ele se afaste antes de, inevitavelmente, ser expulso.”
Matéria Completa, ::Aqui::

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