domingo, 29 de abril de 2012

Afeto e poder

Em quase um ano e meio de governo, afloraram divergências entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois têm pontos de vista diferentes sobre muitos assuntos. E falam disso quando se reúnem.
É fato, por exemplo, que tiveram opiniões díspares sobre a conveniência de criar a CPI do Cachoeira (Quais eram as opiniões díspares, Kennedy?). Discordaram sobre trocas no ministério e na Petrobrás. Vez ou outra, surgiram ruídos. Enfim, são pessoas e estilos diferentes.
Dilma não é uma marionete alojada no Palácio do Planalto. Nem ele é um caudilho com pretensão de manipulá-la. É possível um rompimento? Resposta: impossível.
A principal razão é o sólido laço pessoal entre os dois. Há afeto de verdade na relação. Para o bem e para o mal, Lula é o político brasileiro que mais faz política com emoção. No seu governo, muitos auxiliares o aconselharam a não dar a mão a algumas figuras que minavam sua imagem. Na maioria das vezes, ele ignorou esses alertas, a fim de priorizar uma blindagem política no Congresso após o susto do mensalão. Lula pagou e paga até hoje o preço disso.
E foi com alta dose de emoção que Lula governou, forçando sua equipe a adotar medidas que aceleraram a redução da pobreza no Brasil. No poder, ele nunca esqueceu sua origem pobre. Quem acompanhou Lula em viagens pelo país testemunhou a intensidade emocional do seu contato com as pessoas, principalmente as mais simples. A alta popularidade do petista é reflexo dessa relação carinhosa com o povo (Carinho não enche barriga, Kennedy. Os motivos são muitos, incluindo esse.)).
A amizade de Lula e Dilma se consolidou em anos de proximidade cotidiana. Ela foi a ministra da Casa Civil que deu a ele o controle efetivo do seu governo. Ele foi o presidente que propiciou a ela a oportunidade de realizar um sonho que parecia inalcançável.
Lula e Dilma gostam um do outro como nunca se gostaram Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco, Paulo Maluf e Celso Pitta e Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho, para ficar nos casos clássicos de rompimento entre criador e criatura da nossa história recente.
O poder real de Lula fora da Presidência é outra razão para crer na impossibilidade de ruptura. Ele não precisa do cargo para ser importante. Lula é. Basta ver a romaria de políticos de todos os partidos e de empresários de todos cantos do país ao Hospital Sírio-Libanês e ao Instituto Cidadania.
A força de Lula faz sombra a Dilma? Faz.
Mas também dá a ela um escudo político invejável. Grande parte da popularidade da presidente é herança do antecessor. Com um estilo próprio, ela tem caído nas graças de setores conservadores que não gostam dele. Juntos e leais um ao outro, Lula e Dilma são imbatíveis hoje na política brasileira.
Apostar numa ruptura é uma furada tão grande quanto aquela do terceiro mandato lulista.
Em 2014, Dilma será a candidata do PT com apoio enfático de Lula. Só um acontecimento extraordinário mudaria isso. Nada no horizonte parece indicar algo nesse sentido. Pelo contrário.

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