quarta-feira, 7 de março de 2012

Já queimou o seu mendigo hoje?


Eberth Vêncio, Revista Bula
Você é fogo, eu sou paixão”
Wando (de novo...) 
O ser humano é mesmo uma criatura observadora, inquieta. Por conta da curiosidade inata, botou a grande roda da história pra rodar (antes mesmo que ele próprio inventasse a roda e a mentira), adaptou-se às desgraceiras da vida, e não foi dizimado pela força do ecossistema, conforme outros desafortunados seres rastejantes, voadores e aquáticos. 
Porque tem perspicácia, o Homem peitou os vírus, bactérias, seres peçonhentos, ornitorrincos e a própria ignorância. Então, ele descobriu que os trovões no céu não eram as broncas dos deuses, que a Terra não terminava num enorme precipício, e que as sanguessugas não eram mais a melhor opção para se tratar febre ou loucura. 
Um dia, num passado muito remoto, enquanto mirava os fenômenos da natureza inóspita, algum nosso ancestral cabeludo, amuado numa gruta úmida, presenciou um raio atingindo a relva seca, provocando um descomunal incêndio. Ao admirar tal mágica desgraça, cismou: “que maravilhoso seria seu eu pudesse também produzir faíscas flamejantes...” (foi com estas palavras que ele se referiu às descargas atmosféricas). 
Daí começou toda a mística do Homem com o fogo, e que perdura até os dias de hoje. Vejo, por exemplo, pela janela de casa, que Dona Iolanda, minha senil vizinha, utiliza um isqueiro para atear fogo num montinho de lixo que ela juntou sobre a calçada. “Isto aí não pode, Dona Iolanda!”, repreendo a septuagenária incendiária de detritos. 
Então, a partir da observação de um relâmpago, alguém começou a esfregar pedra contra pedra, caroço contra caroço, tíbia contra tíbia (naqueles tempos desprovidos de máfias das funerárias, havia muitos ossos e carcaças disponíveis sobre as planícies), graveto com graveto. Enquanto muitos debochavam dos experimentos (há sempre vários espíritos-de-porco torcendo para que os nossos projetos simplesmente deem errado), esta cavernosa e sonhadora criatura bípede relevou tanta inveja e persistiu nos exercícios de fricção. 
Vocês sabem: água mole em pedra dura... De tanto insistir em atritar a madeira seca, eis que um aquecimento tal fez nascer a fumaça e uma labareda amarela que feria a pele, doía à beça, algo incrível que foi batizado “fogo”. Nunca antes na Pré-História daquele mundo, alguém fabricara relâmpagos, ou melhor, fogo.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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