terça-feira, 6 de março de 2012

Dilma determina ajustes na política externa do Brasil

Presidente quer aproveitar bom momento do país no cenário internacional

Eliane Oliveira e Helena Celestino – O Globo

 Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota Foto: Guito Moreto/05-08-2011
Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota Guito Moreto/05-08-2011

RIO e BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff determinou ao primeiro escalão da área internacional do governo que repense a política externa brasileira para ajustá-la ao cenário mundial pós-Primavera Árabe e crise europeia. A hora é de aproveitar o bom momento brasileiro para aumentar a influência do país no cenário internacional. A frase, que já virou um mantra repetido por ministros, assessores e diplomatas, é a inspiração básica para todos os envolvidos na discussão das mudanças na política externa brasileira.
— Houve fortes mudanças no mundo no último ano. Por isso, vamos redefinir um projeto de diversificação do Brasil no mundo — resume o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.
Desde o início do ano, um seleto grupo de ministros e assessores especiais da área externa está discutindo formas de o Brasil aproveitar o entusiasmo com o país para amplificar a sua voz nos grandes temas da atualidade. A equipe é comandada pelos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, da Fazenda, Guido Mantega, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Cada um na sua área, eles mapearão as oportunidades para reforçar a presença brasileira na agenda mundial.
— Relações internacionais não são uma ciência exata. Tentamos buscar caminhos através de uma postura de coerência que dê credibilidade ao país — explica Patriota.
Numa linguagem mais simples, diplomatas menos estrelados contam que já estão sentindo o gostinho de participar das grandes decisões do mundo, e são muitos os indícios de que o Brasil está entrando para o grupo dos países dominantes.
— É esta experiência que precisamos sistematizar e transformar em política — diz um embaixador.
Segundo Patriota, o governo manterá o que chamou de “âncora regional” em sua política externa, focada na preservação da paz e da democracia na América do Sul. Na vertente econômica, o chanceler diz que as perspectivas para os países da região são as mais promissoras das últimas décadas.
— Isso permite que nos concentremos em uma agenda positiva e em um engajamento pleno nas grandes questões internacionais — observa o ministro.
Marco Aurélio concorda, mas acredita que os países da região necessitam de mais atenção do Brasil:
— Os vizinhos reclamam nossa atenção. Estão carentes.
Tanto ele como Patriota destacam que o mundo agora é multipolar, o que permite um número maior de protagonistas. Ambos citam a China como exemplo e ressaltaram as divergências de opiniões surgidas no Conselho de Segurança da ONU em relação à Síria: chineses e russos de um lado e americanos de outro.
— Parece a volta da Guerra Fria — diz Marco Aurélio
— O Brasil se mantém firme em suas posições e leva muito em conta a opinião dos países da região — enfatiza Patriota.
Encontro para discutir crise
Os dois, no entanto, rejeitam a ideia de que o Brasil está menos falante desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a faixa para Dilma. A presidente, dizem todos, gosta de fazer política externa, conhece o assunto e dedica ao tema o mesmo interesse que seu antecessor. Claro que cada um com seu estilo: Dilma lê para se informar, Lula era intuitivo.
Na semana passada, a presidente fez críticas aos países ricos, ao dizer que a Europa provocou um “tsunami monetário” com suas medidas adotadas para enfrentar a crise. Hoje, Dilma deverá tratar do tema com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A presidente chegou na noite de ontem a Hannover, por volta das 20h30m, duas horas após o previsto. Uma escala técnica no Porto, em Portugal, provocou o atraso. O encontro com Merkel será hoje, na abertura da maior feira de tecnologia do mundo, a CeBit.
— Lula sempre se moveu a partir de suas intuições. As reuniões de cúpula da América do Sul com os países árabes e com a África, assim como a tentativa de mediação de um acordo com o Irã, foram ideias dele. Agora, o momento é de colher frutos, olhar de forma mais minuciosa as mudanças que houve no mundo — diz Marco Aurélio, assessor internacional da Presidência desde o primeiro mandato de Lula.
Ao ser perguntado, em Hannover, sobre a conversa que Dilma terá com a chanceler da Alemanha, Marco Aurélio diz que a presidente vai repetir em público e na reunião privada com a chanceler alemã a crítica que fez aos países ricos.
A polêmica diplomacia de Lula
A política externa do governo Lula dividia opiniões ao fim dos seus oito anos de Presidência: se seus defensores apontavam a projeção inédita do país no cenário internacional — o que fez com que o presidente Barack Obama, dos EUA, chamasse-o de “o cara” —, os críticos disparavam contra o que classificavam de uma mistura de ideologia e demagogia exageradas.
Entre os episódios mais polêmicos da diplomacia brasileira se destacaram o apoio ao presidente do Irã, Ahmadinejad, e à sua política nuclear; a vista grossa para o desrespeito aos direitos humanos, especialmente em Cuba e Irã; e a falta de medidas enérgicas para frear as importações desleais da China.
Algumas atitudes de Lula causaram constrangimento no cenário internacional, como ter dito que o então ditador líbio Muamar Kadafi era amigo do Brasil ou ao ter se afirmado “feliz” com a crise econômica nos Estados Unidos e na Europa.
Vitórias importantes da política internacional de Lula foram a formalização do Bric (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China), a ação da diplomacia na criação do G-20; a iniciativa de diálogo com o Oriente Médio; e a ampliação das relações com os países do Sul, particularmente da África.
Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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