sábado, 22 de outubro de 2011

Quem tem medo da democratização da mídia

Emir Sader*
Nos meses transcorridos desde as acusações a Palocci até esta ofensiva contra Orlando Silva ficou clara a força da velha mídia para pautar a política nacional. A agenda política ficou periodizada pelos ministros que eram a bola da vez das acusações, numa sequência prolongada de “escândalos, que deu a impressão que essa era a cara mais marcante do governo.

A política econômica e sua articulação com as políticas sociais – o tema mais importante do governo, porque isso vai definir a capacidade do Brasil para resistir às consequências da crise no centro do capitalismo – não conseguiu o espaço essencial que deveria ter na agenda nacional. Ficou na sombra da pauta de denúncias produzida pela velha mídia.


Durante os últimos anos do governo Lula – e, em particular durante a campanha eleitoral – foi possível neutralizar relativamente o peso dos monopólios da mídia privada, com Lula – do alto da sua imensa popularidade e com sua linguagem de enorme apelo popular -, ainda mais que contávamos com os horários televisivos e os comícios da campanha.

Passadas essas circunstâncias, a velha mídia monopolista voltou a ocupar seu papel central na definição das agendas nacionais, pautando o governo com seu denuncismo, que visa enfraquecê-lo. Agem como um grande exército regular e nós, da mídia alterantiva, como guerrilhas. Temos credibilidade, rapidez, acesso aos jovens – que eles não dispõem – mas contamos com meios muito menores de difusão.

Temerosos do marco regulatório, difundem que haverá limitação à liberdade de expressão. Ao contrário, o objetivo não será calar ninguém, mas dar voz a milhões de outras vozes, que hoje, apesar de majoritárias no país, não se reconhecem e são excluídas da mídia tradicional.

Não haverá democracia real no Brasil enquanto não forem democratizados os meios de comunicação, enquanto algumas poucas famílias deixarem de querer falar e nome do país e da grande maioria da população, que vota contra e derrota sistematicamente os candidatos que essa mídia apoia.

É urgente iniciar o debate sobre o marco regulatório, mesmo que um Congresso infestado de donos de meios de comunicação privados resista ao máximo a qualquer forma de democratização da mídia. Defendem seus privilégios monopolistas, mas tem que ser derrotados, para que a formação de opinião pública no Brasil possa ser democrática e pluralista.
*Emir Sader. Sociólogo e cientista político
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Um comentário:

Luiz Claudio C. Souza disse...

Na economia, parece que o que temos pela frente é uma forte pressão sobre o nosso parque industrial, com perspectivas de desemprego e quebras neste setor.
Europa e EUA estão agora, graças aos "rapazes mal educados, mimados e sem limites", que operam o mercado financeiro, exibindo altos índices de desemprego e sem mercado interno.
Estes países, seriamente afetados pela crise, tem como opção para fazer dinheiro e retomar suas economias, as exportações.
Estas se tornarão muito mais competitivas e a China sozinha não terá como compensar a queda na demanda.
Quanto as importações, não podemos nos fechar para o mundo.
E para as nossas exportações, temos que criar um mercado comum por aqui mesmo (Mercosul), o que já estamos fazendo, apesar do que, muito lentamente.
Esta crise será longa, é o que tudo indica. E poderá vir a nos afetar.
Que globo, veja e seus clones, fonte única de informação(?) de cerca de 90% da população brasileira, não venha a convencer o eleitor de que a responsabilidade pelos problemas que poderão advir seja "do que está aí".
Que o governo petista, as esquerdas e a direita "é tudo farinha do mesmo saco", isto já são favas contadas, e inclusive é aceito por parte da esquerda, também vítima da ausência do contraditório e ditadura do pensamento único.
Não dá para esquecer que graças a esta mídia oligopolizada e hegemônica, sempre controlada pelas forças conservadoras, Dilma perdeu em São Paulo, Minas Gerais e em outros importantes estados.
Que no Rio de Janeiro, sem as alianças com o PMDB de Sérgio Cabral, a situação seria o Serra hoje dando as cartas.
Que mesmo com a popularidade de Lula, conquistada graças a um excelente governo, a eleição de Dilma Rousseff se deu apenas no segundo turno.
Que as esquerdas continuam sem mídias de alcance nacional, conversando entre si na Internet e subestimando o que chamam de PIG.
Só que o PIG está aí.
No momento enche as ruas de gente, com cantilena semelhante a que levou Getúlio Vargas ao suicídio e que possibilitou o golpe de 1964.
Aquela que mergulhou o país na barbárie e que levou o Brasil ao maior retrocesso de sua história. - http://www.bloguedosouza.com/