quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Crises econômicas, sintomas do fracasso do capitalismo

Muito para poucos e tão pouco para muitos, capitalismo gera crises sociais
Tim Jackson, em texto publicado na BBC, critica o modelo de crescimento do capitalismo e aponta para o esgotamento de recursos do planeta em breve.
O professor da Universidade de Surrey afirma que "o capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade... O mito do crescimento fracassou. Fracassou para as 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência"


Apresentamos seu texto como uma outra ótica das recentes crises porque passa o capitalismo, por um outro ângulo, uma outra voz na gritaria histérica das crises econômicas que decepam as sociedades de seus valores éticos e torna escassa a solidariedade entre os povos.  
A Grécia perderá milhares de emprego, outros milhões poderão ser perdidos nos países ricos, a jogatina dos derivativos e commoditties permanecem sem regulação no sistema financeiro internacional.  
Enfim, o texto de Tim Jackson aqui reproduzido, reflete o seu pensamento sobre o fato.


Toda sociedade se aferra a um mito e vive por ele. O nosso mito é o do crescimento econômico.
Nas últimas cinco décadas, a busca pelio crescimento tem sido o mais importante dos objetivos políticos no mundo.
A economia global tem hoje cinco vezes o tamanho de meio século atrás. Se continuar crescendo ao mesmo ritmo, terá 80 vezes esse tamanho no ano 2100.

Esse extraordinário salto da atividade econômica global não tem precedentes na história. E é algo que não pode mais estar em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico do qual dependemos para sua sobrevivência.

Na maior parte do tempo, evitamos a realidade absoluta desses números. O crescimento deve continuar, insistimos.
As razões para essa cegueira coletiva são fáceis de encontrar.
Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim"

O capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade. Quando a expansão falha, como ocorreu recentemente, os políticos entram em pânico.
As empresas lutam para sobreviver. As pessoas perdem seus empregos e em certos casos suas casas.

A espiral da recessão é uma ameaça. Questionar o crescimento é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários. 

Ainda assim, precisamos questioná-lo. O mito do crescimento fracassou. Fracassou para as 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência.

Crise e oportunidade
Mas a crise econômica nos apresenta uma oportunidade única para investir em mudanças. Para varrer as crenças de curto prazo que atormentaram a sociedade por décadas.
Para um compromisso, por exemplo, para uma reforma radical dos mercados de capitais disfuncionais.

A especulação sem controle em commodities e em derivativos financeiros trouxeram o mundo financeiro à beira do colapso há apenas três anos. Ela precisa ser substituída por um sentido financeiro mais longo e lento.
Consertar a economia é apenas parte da batalha. Também precisamos enfrentar a intrincada lógica do consumismo.
Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.

Viver bem está ligado à nutrição, a moradias decentes, ao acesso a serviços de boa qualidade, a comunidades estáveis, a empregos satisfatórios.
A prosperidade, em qualquer sentido da palavra, transcende as preocupações materiais.

Ela reside em nosso amor por nossas famílias, ao apoio de nossos amigos e à força de nossas comunidades, à nossa capacidade de participar totalmente na vida da sociedade, em uma sensação de sentido e razão para nossas vidas.
Tim Jackson, BBC Brasil
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