quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bancos seguem convictos rumo ao precipício

Para os bancos, somente o lucro fácil importa, crises? os povos do planeta pagam!
Os bancos não aprendem as lições da história

Roma, Itália, outubro/2010 – Não passa um dia sem que o aperta-afrouxa entre os financeiros e os Estados apresente notícias devastadoras. Agora se informa que o governo grego, para seguir cobrando uns subsídios inúteis, pois não solucionarão seus problemas, demitirá outros 30 mil servidores. É difícil entender como um país que está sofrendo uma contração importante em seus consumos poderá sair de uma espiral cruel, que causará déficits sociais graves, sem conseguir solucionar seu déficit fiscal. Apesar disso, os bancos não estão dispostos a eliminar nenhuma das práticas ruins que causaram a atual crise.

Recentemente, o Estado norte-americano iniciou um gigantesco julgamento por fraude contra um grupo de grandes bancos. A tendência do governo é aceitar uma ingente indenização e encerrar os procedimentos legais. O parlamento suíço, após manobra fraudulenta de um trader, que causou perda de US$ 2 bilhões à Union des Banques Suisses, estuda como aumentar a capitalização de seus bancos, para que sejam mais sólidos. Por todos os lados, os bancos lutam para deter qualquer reforma do sistema financeiro, já que indo mal os Estados intervirão para salvá-los. Segundo números oficiais, os lobbies norte-americanos gastaram US$ 200 milhões para impedir novas regulamentações.

Somente na Grã-Bretanha foram reformuladas propostas concretas. Uma comissão especial determinou que para conter a especulação deve-se voltar a separar o sistema financeiro em dois ramos: um, o dos bancos que recolhem depósitos do público e não podem utilizá-los para atividades especulativas; o outro, dos bancos de investimentos que podem fazer operações de risco.

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Cabe recordar que não houve uma crise de real importância até que, em 1981, Reagan começou a eliminar os controles bancários e Clinton, em 1999, acabou eliminando a lei Glass-Segall, imposta na época de Roosevelt para manter separados os bancos de depósitos e os de investimento.

Obviamente, diante destas e de outras propostas reformistas, os bancos montaram uma grande campanha de oposição, declarando que prejudicarão a competitividade, o lucro dos investidores, encarecerão os empréstimos e afetarão a economia.

Com um descaramento que revela a falta de reparos éticos no mundo financeiro, os banqueiros respondem que a separação entre depósitos e investimentos aumentará seus custos de financiamento, já que os investidores se sentirão menos seguros porque a reforma tornará menos provável que os bancos sejam resgatados pelos governos em caso de crise. Ou seja, partem do pressuposto de que o dinheiro público lhes pertence se, por incorrer em especulações irresponsáveis, arriscarem-se à insolvência.

A reação dos bancos norte-americanos ainda é mais extrema. O chefe do JP Morgan Chase, Jaime Dimon, declarou que as reformas para controlar os bancos são “antiamericanas” e que os Estados Unidos teriam que denunciar o acordo de Basileia, que estabelece regras globais sobre o sistema bancário. Este acordo limita-se a pedir que a capitalização bancária aumente 10% para impedir que os bancos continuem se comprometendo em operações várias vezes superiores ao seu capital.

O último Fitch Ratings informa que os dez maiores bancos dos Estados Unidos se desfizeram, em junho e julho, de 20,4% de seus investimentos em bancos europeus, que alcançaram 97% nos casos de Itália e Espanha. Mas, estes bancos tinham um total de US$ 658 bilhões de investimentos, dos quais US$ 309 bilhões eram títulos emitidos por bancos europeus, equivalentes a 47% do total. Isto revela que os bancos norte-americanos, estão estreitamente ligados à saúde dos bancos europeus (e vice-versa). E, de acordo com os analistas, os bancos estão tão preocupados que já não soltam dinheiro. Isto significa que a economia real, as empresas e as famílias não recebem créditos, que era a função original e insubstituível dos bancos.

Entretanto, os dados do descalabro social que vivemos são a cada dia mais impactantes. Estão sem emprego, 25% dos jovens europeus. O número de pobres aumenta em vários países, primeiramente na Itália. Claro que ninguém chega aos extremos norte-americanos. O Escritório de Estatísticas acaba de publicar seu informe anual, que registra alta de 2,6 milhões de novos pobres, que agora somam 46,2 milhões: o número mais alto nos 52 anos de estatísticas desse instituto. Destes, 20,5 milhões estão em condição de extrema pobreza. E se o Partido Republicano vencer as eleições serão suprimidos os subsídios sociais, como os vales para alimentação, que fazem parte do pouco que restou.

Uma bomba de nêutrons está caindo sobre os países ricos. Uma bomba que destrói as pessoas, mas deixa a infraestrutura em pé. Hoje em dia, a principal infraestrutura do Norte não são as empresas, as estradas ou a agricultura; são as finanças. Já se começa a falar, nos Estados Unidos, da década perdida. Tomara que se trate de uma única década.

* Roberto Savio, fundador e presidente emérito da Inter Press Service (IPS), em Envolverde.

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