segunda-feira, 19 de setembro de 2011

'A Internet é mais importante que a imprensa'



Entrevista com Ignacio Ramonet

''Os jornalistas hoje são mais exigidos do que antes'', afirma Ramonet

"Hoje, a informação é um ato coletivo, mais democrático. O jornalista não está sozinho. Antes, se tinha dois atores, um ativo e outro passivo. O emissor e o receptor. Hoje, o receptor é tanto ativo como o emissor. Eu o chamo de webator".

O comentário é do jornalista Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique e doutor em Semiologia e História da Cultura. Ramonet acaba de escrever o livro A explosão do jornalismo.

O jornalista concedeu entrevista à Martín Granovsky do Página/12, 11-09-2011. A tradução é do Cepat.

-Por que a Internet é mais importante do que a imprensa?

-Tem-se dito que a Internet é tão importante quanto à invenção de Gutenberg. Mas é mais importante do que a imprensa. Porque com a imprensa se tem apenas o livro, o escrito. Não o desenho ou as representações gráficas que mudaram o Ocidente quando nos séculos XIV e XV Filippo Brunelleschi inventou a perspectiva. A imprensa foi chave, sim. Não apenas mudou a maneira de fabricar textos como o número de universidades. Em 1440 havia quatro ou cinco. Com a extensão do livro se multiplicou e surgiu o humanismo, o Renascimento.

A edição da bíblia em línguas que não se resumiam ao latim.

Exato. Que foi um suporte do protestantismo. Cada um podia ter o seu livro, que antes valia o mesmo que um carro de hoje em dia. Desapareceram, ao poucos, os copiadores. O que eu quero dizer é que há transformações na política, na sociedade, na geopolítica... A guerra dos Trinta Anos, de protestantes contra católicos era uma consequência, nesse sentido, da imprensa. Hoje a Internet e as redes sociais não geram por si só alguns fenômenos, mas os aceleram enormemente.

O uso massivo dos Black Berry nos recentes protestos de Londres?

Por exemplo. Esses protestos, em boa medida, são filhos da Internet.

Internet e as redes sociais produzem o fenômeno ou são ferramentas dos fenômenos?

As redes não são uma causa, mas um acelerador. As causas são sempre as condições sociais, econômicas, políticas... mas, a aceleração é importante. A globalização apenas adquire a intensidade atual quando se criam o que chamamos de autopistas da informação, por onde circulam por 24 horas as ordens de compra e venda nas bolsas que circulam velozmente graças ao que a Era digital permitiu. Internet é um ator do que ocorre e um vetor do que acontece, e em ambos os casos para além do campo da comunicação. O jornalista tinha até agora o monopólio da informação. A sociedade recebia a informação através dos jornalistas.

Agora já não é mais assim?

É um trabalho partilhado. Os cidadãos com seus blogs e a informação que eles mesmos difundem com os sítios de informação on-line, com a informação que se difunde pelo Twitter.

Não é ruim essa nova situação ou é? Inclusive é interessante para os jornalistas, por um lado, se tem mais fontes de informação em mãos e, por outro lado, qualquer um pode corrigir o que fazemos.

Isso mesmo.

E se o jornalista é bom, mantém sua capacidade de edição, ainda que não seja monopolizada.

Claro. Eu diria que é o momento dos jornalistas demonstrarem para a sociedade que são necessários. A sociedade, em teoria, pela extensão dos intrumentos como a Internet, poderia se autoinformar. Naturalmente é um sonho que não se pode realizar. Como diz a psicoanálise, não basta que se tenham conhecimentos para se auto-analisar. Por definição, a auto-análise não existe. A sociedade não pode se “auto-informar”, mas ao menos em teoria seria possível. Daí que os jornalistas são mais exigidos do que antes. Antes tinham esse monopólio, certo prestígio social, exerciam certo “terrorismo” intelectual na sociedade... Esse estatuto um pouco privilegiado está bagunçado por inteiro e agora surgem novas vozes e jornalistas novos. Basta ver o êxito do The Huffington Post nos Estados Unidos. (Cont...)

-Leia a entrevista, na íntegra (oriunda do sítio IHU-Unissinos) CLICANDO AQUI

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