sábado, 19 de março de 2011

“Queremos criar uma relação de confiança com os EUA”

O ministro Patriota crê que Obama vai apoiar o Brasil por vaga no Conselho de Segurança da ONU

Claudio Dantas Sequeira – Istoé

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Dos encontros que manteve em Washington há duas semanas, o chanceler Antonio Patriota saiu com a impressão de que o presidente Barack Obama poderá apoiar o Brasil para uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas não há garantia de que isso ocorra agora, em sua passagem pelo Rio. “Não tenho elementos para dizer o momento exato em que o apoio virá”, explicou o ministro das Relações Exteriores em entrevista exclusiva à ISTOÉ, na quarta-feira 16. Patriota ressaltou que a visita servirá para “atualizar” o diálogo político.

ISTOÉ – Há expectativa de que Obama declare apoio à pretensão do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. O sr. acredita nisso?
Patriota – Essa é uma decisão que deverá partir do próprio presidente Obama. Nas conversas em Washington, tratei do tema e pude identificar que existe muito respeito pela contribuição que o Brasil dá à promoção da paz internacional. O Haiti é um exemplo citado frequentemente. Além disso, o Brasil é a única nação emergente com relação fraterna com seus vizinhos, não tem inimigos e possui credenciais impecáveis de não proliferação de armas de destruição em massa. De modo que esse conjunto de circunstâncias poderá efetivamente se traduzir em apoio, mas não tenho elementos para dizer o momento exato em que esse apoio virá.

ISTOÉ – Se o apoio não vier agora, a visita terá sido em vão?
Patriota – Em absoluto! O gesto da visita em si é muito significativo. Há um interesse muito grande também dos setores privados, perspectivas de novos negócios, mais interação. Existe uma variedade de temas que serão abordados. A relação bilateral não se limita a essa questão.

ISTOÉ – O Brasil de hoje representa um desafio para os EUA?
Patriota – Os EUA reconhecem a influência regional e global do Brasil. Nas minhas conversas em Washington, na preparação desta visita, pude identificar um interesse muito grande em atualizar a relação bilateral, para que reflita essas novas possibilidades, em função do desenvolvimento econômico-social e da elevação
do perfil diplomático brasileiro.

ISTOÉ – Que entraves precisam ser superados na relação com os EUA?
Patriota – A relação hoje está num nível elevado de interação, uma agenda ampla. Para tratar as barreiras pontuais há mecanismos específicos, como a OMC. Existe expectativa de conseguirmos maior acesso ao mercado americano para produtos como
a carne, e decisões na área fitossanitária podem beneficiar nossas exportações. Mas uma visita presidencial, sobretudo a primeira, não deve descer a detalhes comerciais. Vamos trabalhar na criação de uma relação pessoal de confiança entre Dilma e Obama para que a agenda existente progrida e agendas novas sejam estabelecidas.

ISTOÉ – Essa nova maturidade significa
o fim do antiamericanismo?
Patriota – A questão de ideologia não é um ingrediente significativo. Mas o Brasil é uma potência emergente e quer transformar certas estruturas globais. O problema é que durante algum tempo a percepção era de que os EUA defendiam o status quo e queriam congelar a estrutura de poder internacional. Também fomos críticos à intervenção no Iraque. Mas o presidente Obama representa uma visão diferente, em que o uso da força militar respeita a carta da
ONU. Obama quer que os EUA estejam em contato com os novos polos de poder. Esteve na Índia, na China e agora vem ao Brasil. Estamos num mundo diferente.

ISTOÉ – A escolha do Rio para o discurso do presidente Obama foi sugestão do Itamaraty?
Patriota – A escolha foi dele. Obama já falou outras vezes de seu grande interesse em conhecer as praias brasileiras. Ele gosta de mar, é havaiano. E o Rio hoje representa o petróleo brasileiro, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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