quarta-feira, 30 de março de 2011

“Ele era bom em vida”, diz ex -presidente

Lula entre Marisa e Dilma em Coimbra: lembrança da carreata em novembro em que Alencar ficou em pé por 4 horas


Assis Moreira | VALOR

De Coimbra

Foi em meio a momentos de prantos que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram a morte de José Alencar, pouco depois de serem informados pelo médico do ex-presidente.

A visita de ambos em Portugal foi encurtada, e retornam a Brasília logo depois de Lula receber titulo de doutor honoris causa na Universidade de Coimbra, hoje cedo.

Com a voz embargada e os olhos marejados, a presidente Dilma Rousseff anunciou luto oficial por sete dias e velório no Palácio do Planalto para Alencar como chefe de Estado.

“Estamos num momento de muita dor e sofrimento, José Alencar vai deixar uma marca indelével na vida de cada um de nós”, disse a presidente, enquanto Lula ao seu lado caia literalmente no choro.

“Todo mundo fica bom depois de morto, mas José Alencar era bom em vida”, disse Lula, estimando que não podia ter tido um vice-presidente melhor e mais leal, sem “nenhuma divergência”. Qualificou a relação de ter sido mais que política e sim de “irmãos e companheiros e a gente funcionava como um orquestra”.

Lula declarou-se ainda mais agradecido ao lembrar que, depois de ter perdido eleições porque não passava de 35% dos votos, foi com ajuda de José Alencar que encontrou o restante. “Quando vi o discurso de José Alencar em Minas Gerais, comemorando os 50 anos de vida empresarial, sai de lá falando que encontrara meu vice.”

O ex-presidente lembrou a resistência ao nome do empresário mineiro. Mas os dois viajaram o Brasil inteiro. “Tinha muita gente mais à esquerda que achava que não devia chamá-lo para vice. Mas quando ele falava e contava sua vida, o mais esquerdista ficava chorando.”

Lula lembrou com Dilma de um episódio da campanha dela em Belo Horizonte. Alencar não tinha mais força nem sequer para levantar a mão de tão fragilizado. Mas subiu num carro e os três fizeram a carreata por Belo Horizonte por quatro horas. “Ele dizia que tinha de fazer isso porque queria eleger a Dilma.”

O ex-presidente disse que falava com Alencar praticamente toda semana. “O otimismo dele era uma coisa que causava na gente até uma inveja de ver sua força.” Antes de partir para Lisboa, ele telefonou para Alencar do carro. O ex-vice presidente sabia que do ponto de vista clínico não tinha mais muita expectativa, mas mantinha a fé.

Depois que chegou em Portugal, Lula ligou de novo para o médico de Alencar e soube que ele estava sedado. Mais tarde, o médico Raul Cutait informou sobre a morte. “Foi um descanso para ele, estava sofrendo há seis meses. Alencar não se contentava de ficar no hospital o tempo inteiro”, disse Lula, de novo chorando. Alencar pedira a opinião de Lula sobre se deveria parar de tomar remédios. “Achei que sim, ele devia viver da maneira mais prazerosa os dias que restavam”, contou. Depois interrompeu a entrevista aos prantos.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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