segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Plínio e os udenistas da direita

Tenho amigos que votarão no Plínio, mas não posso deixar de criticar o udenismo vulgar que o candidato do PSOL usou no debate de domingo, na Record, e que, pela repetição sistemática de clichês moralistas em todo certame, deve ser a estratégia do partido nessa reta final.

A afirmação que "Psol não tolera corrupção" me parece extremamente arrogante, como se o partido pudesse de controlar os vícios humanos. Gaba-se de que o partido não tem casos de corrupção, o que é fácil para um partido minúsculo e criado há poucos anos. A corrupção é um problema vinculado ao poder e ao dinheiro. É claro que os casos aumentam na proporção que um partido ganha poder. Mas como seria ingenuidade pedir que os partidos não ambicionem mais poder, a única solução para o problema é fortalecer as instâncias que investigam a corrupção no país.

Além disso, Plínio foi injusto, porque ele sabe que durante o governo Lula houve um grande aumento na quantidade de operações da Polícia Federal no combate à corrupção. Plnio surfa no antilulismo desinformador da mídia, para vender uma ilusão moralista que ainda engana muita gente.

Após protestar tanto contra a falta de tempo, Plinio tem disperdiçado blocos inteiros nos debates por pura confusão mental. Chamou Dilma de Marina sem sequer corrigir-se depois. Inventou um sofismo tolo e também udenista ao dizer que o aumento do número de investigações significa aumento da roubalheira. Ora, como Plínio pode afirmar que seu governo "não tolera corrupção" e depois zombar, levianamente, do aumento das investigações? Como ele pretende combater "a roubalheira"?

Dou parabéns a Plínio por apontado a concentração dos meios de comunicação, mas achei egoísmo de sua parte criticar apenas a omissão que, segundo ele, a imprensa faz de sua candidatura, e se negar a comentar sobre a acusação dos movimentos sociais, sindicatos, diversos partidos de esquerda, blogueiros e um importante segmento da população contra o papel da imprensa nestas eleições, publicando calúnias contra Dilma Rousseff e fazendo acusações à Serra.

Com todo o respeito que tenho pelo candidato do Psol, não posso deixar de observar que a participação de Plínio no debate mostrou um indivíduo com muita dificuldade de coordenar os pensamentos ou mesmo entender exatamente o que estava acontecendo.

Outro ponto que me incomoda em Plínio é que ele tem partido, sistematicamente, durante os debates, para os ataques pessoais, ad hominem, ou melhor, ad feminam. Os ataques que fez à Marina Silva foram de baixo nível. À Dilma, idem. Ele se acha melhor que os outros?

As centenas de milhares de estudantes que se beneficiaram do Prouni e Reuni também devem ter se sentido bastante ofendidos com as referências jocosas do candidato a esses programas. Suas críticas foram deselegantes, ainda mais por atingir jovens que vivenciam momentos muito emocionantes em suas vidas. Sua desqualificação magom esses estudantes. Plínio, um homem muito rico, esnoba da ascensão social de milhões de brasileiros pobres que ganharam acesso a universidade.

Ao mencionar a educação em São Paulo, num debate com Serra, Plínio cometeu outra grosseria, ao se referir a todos os jovens paulistas como "analfabetos". Esse tipo de afirmação, se é vista como "gracinha" pelos segmentos cultos da sociedade, constituem uma agressão imperdoável aos brasileiros pobres e com pouco acesso à cultura.

Mas eu não voto no Plínio apenas por essas grosserias, típicas de um paulista ricaço e pedante. Eu não aprovo suas propostas. Grande parte de seus eleitores encantam-se apenas com o charme socialista e independente do PSOL, mas poucos atentam para o caráter sectário de suas propostas.

Após o pagamento da dívida externa e a redução da dívida pública, a defesa do calote desta última, por exemplo, é algo simplesmente irresponsável. O Brasil hoje tem condições de ser um importante emissor de títulos públicos no mercado internacional, a juros baixos e a longo prazo. Seria uma estupidez infantil, seria jogar dinheiro fora, decretar um calote que afetaria essa credibilidade conquistada a duras penas. Alem disso, os títulos que formam a dívida pública estão hoje capilarizados junto à população, de maneira que um calote prejudicaria uma quantidade imensa de famílias de classe média.

Quanto ao limite da propriedade, trata-se de uma medida arbitrária e truculenta. Com base em que estudo, o PSOL decreta que mil hectares é o limite? É óbvio que o partido optou por um número "redondo" por uma questão de criar um símbolo. Mas você poderia concluir da mesma forma que o limite é de 2 mil hectares, ou de 3 mil ha, ou de 800 hectares. Ora, está claro que o latifúndio deve ser combatido no país, mas essa medida é tola. Por exemplo, um homem poderia ter até 20 mil hectares improdutivos sob seu controle, mas em nome de familiares. O Brasil precisa de uma reforma fundiaria sim, o que é diferente de uma reforma agrária (embora os temas sejam vinculados), mas não se pode criar uma lei dessas para um país tão desigual. Em áreas próximas a centros urbanos, por exemplo, o Estado poderia dificultar, ou ao menos não incentivar, a concentração fundiária. Mas o mesmo cuidado não seria necessário, não no mesmo grau, em áreas extremamente despovoadas do Centro-Oeste.

O PSOL engaja-se com demasiada facilidade em qualquer campanha contra o governo, o que significa dizer que se engaja sistematicamente contra qualquer ação governamental, aliando-se à mídia nesse tipo de oposição radicalizada e sectária. Desvio do São Francisco, Belo Monte, Angra III, presal? O PSOL parece ser contra tudo, e quando se pedem propostas ao partido, ele responde apenas com abstrações e generalidades.

Jà observei que Plínio tem dois grupos de eleitores. Um é formado pelo jovem idealista, ainda um pouco ingênuo em sua visão de mundo, e confundindo um pouco o fato do PSOL ser um partido muito pequeno e estar a milhas de distância do poder com uma espécie de pureza ideológica e moral.

Outro grupo é formado pelo eleitor meio desorientado com os ataques pesados que a petista sofre na imprensa e nos estratos altos da sociedade. Os ambientes empresariais costumam ser extremamente agressivos no quesito político, com uma disseminação grande de um antipetismo rancoroso. Votar em Plinio ou Marina é como levantar uma bandeirinha branca de paz. Ser eleitor da Dilma é comprar uma guerra constante e nem todo mundo está disposto a isso. Não tanto entre os pobres, onde quase não há o fenômeno do antipetismo, mas sobretudo da classe média para cima. Declarando-se eleitor de Plínio ou Marina, o eleitor é tratado como "civil", e não como "militante" e pode assistir ao combate do lado de fora, sem risco.

Mas a maioria dos eleitores de Plinio, e grande parte dos de Marina, devem ir de Dilma - se houver - no segundo turno.

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