domingo, 19 de setembro de 2010

Araponga de Yeda espionou também empresários e procuradores federais


18/09/2010

AYRTON CENTENO

Uma nova lista com 80 pessoas espionadas pela Casa Militar do Governo Yeda Crusius (PSDB), através do Sistema de Consultas Integradas, está nas mãos do promotor de Justiça Amílcar Macedo, encarregado do caso.

“São todas pessoas muito conhecidas e, desta vez, também aparecem empresários de peso e procuradores do Ministério Público Federal”, informou Macedo ontem (sexta) a Brasília Confidencial.

Na relação, segundo o promotor, figuram mais deputados, políticos, jornalistas e advogados. Após adiantar que pretende revelar a nominata terça-feira, ele reparou que “existe ainda muito mais a pesquisar” já que foram feitos 96.000 acessos, regulares ou ilegais, aos dados de uma quantidade ainda não avaliada de pessoas.

A nova listagem complementará a primeira liberada com 40 nomes, incluídos o ex-ministro Tarso Genro – que disputa com a governadora a eleição estadual -, o senador Sérgio Zambiasi (PTB) e três deputados. O autor confesso da violação dos sigilos é o sargento César Rodrigues de Carvalho, da área de inteligência da Casa Militar. Carvalho, porém, afirma que agiu cumprindo ordens da chefia da Casa Militar e do Gabinete da governadora.

“BUREAU CRIMINOSO”

Indagado se na lista estariam os procuradores que esquadrinharam a corrupção na gestão do PSDB e, em 2009, denunciaram Yeda, seu ex-marido Carlos Crusius e mais sete atuais ou ex-assessores diretos, além de vários deputados apoiadores de seu governo, Macedo limitou-se a dizer apenas que “é por aí…”.

Na época, a denúncia de 1.238 páginas do Ministértio Público Federal definiu como “bureau criminoso” a organização que investiu contra os cofres do Detran gaúcho apropriando-se de R$ 44 milhões. Posteriormente, a Justiça Federal, onde tramita a ação, excluiu a governadora do processo por questão de foro.

No mesmo dia em que identificará as novas vítimas da arapongagem tucana, o promotor começará a ouvir os chefes do espião do Palácio Piratini. Serão chamados a depor quatro militares e três civis. Entre os militares, o ex-chefe da Casa Militar, tenente-coronel Marco Antonio Quevedo, e o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, tenente-coronel Frederico Bretschneider Filho. Os dois pediram demissão logo após a prisão do sargento que detonou o escândalo. Serão chamadas ainda a assessora Walna Vilarins Menezes, braço-direito de Yeda, a jornalista Sandra Terra e o ex-chefe de Gabinete da governadora, Ricardo Lied, atualmente na coordenação da campanha do PSDB no Estado.

PALÁCIO NO ESQUEMA

Além da arapongagem, o promotor vai explorar outro filão do imbróglio: a extorsão de donos de bingo e casas de caça-níqueis de Canoas, maior cidade da Região Metropolitana depois de Porto Alegre. Mensalmente, os contraventores pagavam R$ 40.000,00 para gozar de um esquema de informação – a partir do Sistema de Consultas Integradas – que antecipava os movimentos de repressão ao jogo clandestino.

“Me parece que ele (o sargento) não agia sozinho”, observou Macedo. Suspeita-se que os recursos extorquidos alimentariam campanhas eleitorais de integrantes ou aliados do governo do PSDB.

“Os contraventores que, na campanha de 2006, haviam colaborado espontaneamente com a campanha de Yeda Crusius, passaram a ser extorquidos pelo grupo do sargento César Rodrigues (Carvalho), com a alegação de que o dinheiro destinava-se à “chefe”, afirmou também ontem à Brasília Confidencial, o ex-ouvidor da Segurança Pública, advogado Adão Paiani.

Filiado ao DEM, partido pelo qual concorre a uma cadeira na Assembleia Legislativa, Paiani foi o pioneiro, no começo de 2009, na denúncia do uso ilegal do Sistema de Consultas Integradas pelo núcleo de poder do Palácio Piratini.

“A MANDANTE”

Com a ida do sargento para a Casa Militar, a prática foi, segundo o ex-ouvidor, “apropriada pelos integrantes da cúpula palaciana, que passou a exigir para si parte dos recursos oriundos da extorsão”, que teria acontecido “pela postura omissa da governadora”. No que se refere à arapongagem, ele não tem dúvidas de que Yeda é “a mandante”.

O ex-ouvidor assegura possuir mais de duas horas de gravação de áudios, onde aparecem contraventores e policiais discutindo sobre o funcionamento do esquema operado no coração do governo gaúcho. Invocando a necessidade de preservar as investigações, Paiani argumenta que veiculará os áudios que possui somente “no momento oportuno”.

O Palácio Piratini nega as denúncias que considera fomentadas pelo desejo de aparição na mídia de seus acusadores.

O SORRISO DA CORUJA

A gravidade da situação tem feito a governadora oscilar entre o rebate – nesta semana chegou a discutir com Paiani no twitter – e o auto-isolamento dos problemas. Ao mesmo tempo que reclama das “agressões”, que tanto podem ser as investigações do Ministério Público quanto as críticas da disputa eleitoral, cultiva um certo distanciamento. “O lilás da nossa primavera e o sorriso da coruja” é o título que deu a sua crônica postada quinta-feira no “blog da yeda”.

“Ao negativo cabe sempre e cada vez mais contrapor o positivo e uma mensagem de paz”, escreveu na abertura. E prosseguiu: “A primavera nos traz, além de estímulo vivo, muita paz quando observamos as flores que chegam com ela, ou a prenunciam, e acompanhamos a formação de novos ninhos dos pássaros que procriam na estação”.

Deixa a primavera de lado para queixar-se de cartazes que a mostram atrás de grades e onde se lê “Você sabe onde Yeda e seus cúmplices deveriam estar?”. E identifica sua situação com a do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto.

“É o mesmo movimento que sofre Serra e outros políticos que fazem política para construir e participar ativamente da construção de uma sociedade mais livre, mais justa, mais igualitária”. Explica que aquilo que a move na política é “poder fazer, atuar pelo equilíbrio próprio da vida, que vai se desenvolvendo em ciclos” para, logo acrescentar: “Não estamos num bom ciclo”.


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Do Blog O TERROR DO NORDESTE.

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