terça-feira, 24 de agosto de 2010

As contradições do eleitor paulista


Esse gráfico, mostrando Lula com 73% de Ótimo/Bom em São Paulo e somente 6% de Péssimo, não deixa dúvidas: o PT ainda tem um grande potencial de votos no estado, e refiro-me à disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Segundo o Datafolha (que uso para ser o mais conservador possível, ver tabela abaixo), Alckmin tem 54% das intenções de voto, contra 16% de Mercadante.

Não é uma contradição? Apenas 6% dos paulistas acham o governo Lula ruim ou péssimo, e mesmo assim a grande maioria vota no PSDB, principal adversário de Lula. Não faz sentido. São Paulo vive uma esquizofrenia política que precisa ser revertida.

Eu acredito que, nas próximas semanas, com a presença de Lula ao lado do candidato petista ao governo de São Paulo, a diferença entre os dois deverá cair.

Por motivos estratégicos óbvios, é preciso focar todas as energias em terras bandeirantes. Aliás, o próprio PSDB já vem perdendo a tranquilidade que apresentava na disputa estadual.

Celso Russomano, candidato ao governo de SP pelo PP, já deu sinais de que pode apoiar Dilma Rousseff. Com 11% das intenções de voto, o pepista pode ajudar Mercadante num eventual segundo turno.

Analisando a tabela abaixo, identificamos as seguintes fragilidades na candidatura Mercadante:
  1. Disparidade entre votos femininos e masculinos. O petista tem 20% dos votos masculinos, contra somente 12% das mulheres. O voto masculino costuma antecipar o voto feminino, o que é positivo, portanto. Mercadante pode chegar a 20% facilmente.
  2. O mais impressionante, contudo, é a debilidade do petista entre os mais jovens. Ele tem somente 8% do voto jovem, entre 16 e 24 anos, contra 65% de Alckmin. Esses números revelam um forte grau de desconhecimento por parte do eleitor paulista, que ainda não associou Mercadante ao governo Lula.
  3. Mercadante também é fraco entre os mais pobres: apenas 12% dos que ganham até 2 salários, declararam votar no petista. Nesse segmento, é grande o número de indecisos. A forte popularidade de Lula nessa faixa da população é um trunfo para Mercadante.


Entretanto, é nessa tabela que encontramos verdadeiras aberrações:


(Clique para ampliar).

Repare que 37% dos entrevistados que declararam preferência pelo PT afirmaram que irão votar em Alckmin. Esquizofrenia pura. 40% dos entrevistados que votarão em Dilma afirmaram que preferem o candidato tucano para o governo de SP. Non sense.

Alguém poderia alegar que PT ou Mercadante têm altos índices de rejeição em São Paulo. Uma outra tabela do Datafolha mostra que isso não é verdade. Apenas 22% dos paulistas afirmaram que não votariam de jeito nenhum em Mercadante. É uma rejeição baixa, se considerarmos a diferença entre os dois candidatos.


Rejeição dos candidatos a governador em SP (Datafolha 16/08)

As eleições entram na fase final, com inevitável radicalização. Já pode-se detectar isso pelo aumento das baixarias na internet. No twitter, o Encontro dos Blogueiros em SP recebeu insultos pesados, sobretudo depois que ganhou elogios da ministra Dilma Rousseff.

Era natural. A idéia do Encontro de Blogueiros Progressistas (esse nome é muito estranho mesmo, mas não encontramos nada melhor por enquanto, talvez a gente se acostume a ele com o tempo) era realizar um evento pluripartidário, como realmente aconteceu. Havia simpatizantes de vários partidos (o PT tinha mais porque é um partido maior). Mas o termo "progressista" e a posição notoriamente de esquerda dos membros da comissão organizadora deixaram bem claro que o evento de fato soprava em favor da ministra. Não tinha como ser de outro jeito. Serra tem apoio da grande mídia, e a blogosfera política de esquerda (ou seja, progressista) surgiu, proliferou e consolidou-se justamente como um contraponto ao discurso único martelado diariamente pela big press no ouvido de milhões de brasileiros. Um discurso radicalmente antilulista e, portanto, serrista. A teoria da imprensa que afirma a necessidade de criticar governos sempre omitiu, convenientemente, o outro lado desse raciocínio, que é o benefício à oposição. O leitor sempre percebe a opção feita pelo jornal. Por mais que um colunista não declare seu voto, é possível identificar-lhe a preferência pelo tratamento que dá a esta ou aquela figura pública. Por mais que se publiquem matérias negativas sobre um espectro, o eleitor faz uma soma mental e conclui facilmente que a balança pendeu para um lado. Tudo bem, é a vida. Mas não venham reclamar do surgimento de uma blogosfera cuja posição política principal é ser contra a grande mídia. Da mesma forma, c'est la vie.

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