quarta-feira, 3 de junho de 2009

AMANHECER EM EL SALVADOR.

Copiado do Blog DE UM SEM-MÍDIA, do amigo Carlos Augusto Dória, que está em Minhas Notícias e em Meus Favoritos.
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Saraiva
AMANHECER EM EL SALVADOR.
Por Mauro Santayana“Aquele que for derrotado no serviço em favor dos pobres, pelo amor de Cristo, viverá como o grão de trigo que morre. A colheita chega porque o grão morre. Nós sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando a sociedade é plena de injustiça e pecado, é esforço que Deus abençoa, que Deus quer, que Deus nos determina”.O pregador era o arcebispo de El Salvador, dom Oscar Arnulfo Romero y Galdamez, que celebrava a missa vespertina na pequena capela do Hospital da Divina Providência, para cancerosos pobres. Em seguida, um disparo atingiu-lhe o coração. O atirador de elite, segundo se soube depois, era Álvaro Saravia, chefe de um dos mais operativos esquadrões da morte que atuavam no país. Um dia antes, em outra missa, o arcebispo se dirigira aos soldados que vigiavam a cerimônia e os exortara a não matar seus irmãos, ordenando-lhes, em nome de Deus, que não obedecessem a seus superiores.Sete dias mais tarde, durante as cerimônias fúnebres em sua homenagem, mais de 50 mil pessoas, reunidas na praça – outras 7 mil estavam no interior da catedral – foram atacadas com bombas e tiros de metralhadora. Eclodiu a guerra civil, que custou a vida de 200 mil pessoas, e foi financiada pelos Estados Unidos com US$ 1,5 milhão ao dia, durante 12 anos. Um acordo, em 1992, interrompeu os combates, mas manteve a direita no poder, até a última segunda-feira, quando a esquerda, com o jornalista Maurício Funes, assumiu a Presidência do país.El Salvador é o mais forte símbolo do confronto entre o humanismo cristão e a brutalidade dos opressores nos últimos séculos. Dom Oscar Romero, segundo os seus biógrafos, foi escolhido para a arquidiocese por sua posição conservadora. Mas, nos três anos anteriores, como bispo de Santiago de Maria, uma das regiões mais miseráveis do país, ele foi convertido à Teologia da Libertação. Cavalgando pela região montanhosa, o prelado descobriu que a realidade da opressão era muito mais dura do que imaginava. Crianças que morriam de fome, trabalhadores que tombavam de fadiga na colheita de café, os cortejos fúnebres diários e os cemitérios plenos de pequenas cruzes. Tentou ajudar com os recursos da igreja e suas próprias economias, mas verificou que isso de nada adiantava. Ao assumir a Arquidiocese de El Salvador, em 1977, resumiu, em sua homilia, a experiência com os humilhados e oprimidos.“O mundo dos pobres nos ensina que a redenção só virá quando eles deixarem de ser os recebedores passivos da ação do governo ou das igrejas, mas, sim, quando forem os mestres e protagonistas de sua própria luta pela libertação”. Poucos meses antes de morrer, enviou a Carter o apelo para que deixasse de dar dinheiro aos militares que dizimavam seu povo. Carter não respondeu e só suspendeu a remessa de recursos bélicos quando a opinião pública o pressionou diante do assassinato de quatro freiras católicas norte-americanas, um mês antes da morte de dom Romero. Reagan, ao assumir, restaurou e incrementou a ajuda militar, com US$ 1,5 milhão diários, durante os 12 anos seguintes. A perseguição aos religiosos continuou até o fim. Em 1989, seis jesuítas foram chacinados na Universidade Centro Americana, entre eles Ignácio Ellacuria, Segundo Montes e Ignácio Martin-Baro. O oficial chefe do batalhão que os executou, Espinosa Guerra, fora aluno de Segundo Montes no curso secundário.Recordar o que houve em El Salvador é recordar “a injustiça e o pecado” da sociedade mundial que conhecemos. Dois, entre outros casos, marcam a brutalidade e a estúpida banalidade da repressão: ao reconhecer o cadáver da filha, os pais acharam estranho o volume sob o lençol. Em seu ventre, costurado com cadarço de sapatos, estava a cabeça do noivo. No outro episódio, 15 minutos antes do toque de recolher, um soldado abateu o adolescente que corria pela rua, e explicou ao colega: “Yo sé donde vive. No llegará a tiempo”.Maurício Funes prometeu o desenvolvimento do país voltado para a redenção de seu povo, inspirado em dois líderes contemporâneos: Lula e Barack Obama. Citou a situação desesperada que a direita construiu: meio milhão de crianças sem escolas (o país tem 7 milhões de habitantes), desnutrição crônica, desemprego, corrupção generalizada, violência. O mesmo quadro denunciado por dom Romero em 1980.A esperança que renasce no país depende da solidariedade continental.Fonte:JB
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA às 17:58 0 comentários

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